Dois poetas, Seamus Heaney e Derek Walcott, ambos prémios Nobel de Literatura, colaboram com a jovem compositora caribenha Dominique Le Gendre numa nova ópera inspirada em Antígona, de Sófocles, cuja estreia mundial acontecerá em 11 de outubro em Londres.
É a primeira vez que o irlandês Heaney, autor do texto poético que serve de libreto, "Burial on Thebes" (Enterro em Tebas), autoriza uma versão para a ópera de um de seus livros, mas a compositora considera que o recurso a que chama de "teatro per música" se adequa muito à obra original do clássico grego.
"É uma experiência incrível. Sófocles ficaria encantado. É uma tragédia que exige uma grande profundidade emocional", diz Walcott, poeta e veterano do teatro e que, pela primeira vez, faz uma montagem de uma obra de seu colega irlandês.
"Tenho uma amizade pessoal com Heaney. É um grande poeta e um grande amigo. E eu quero fazer justiça ao poeta. É um dever que tenho para com ele e para com Dominique", destacou Walcott à Agência Efe durante uma pausa nos ensaios.
O prémio Nobel diz sentir saudades do elemento "trágico" no teatro actual e afirma que é algo que "requer poesia, e não psicologia".
"O teatro moderno é dos romancistas e não dos poetas, e eu gostaria que houvesse mais poesia", diz Walcott, para quem o poeta e dramaturgo T.S. Eliot era "elitista demais" e não "suficientemente vulgar", o que não acontece, no entanto, com William Butler Yeats nem com Seamus Heaney.
Walcott ambientou o drama de Sófocles em torno da razão de Estado e a consciência do indivíduo em uma ditadura da América Latina, embora seu alcance seja naturalmente universal.
Também desenhador e pintor, o poeta criou os cenários e o figurino da sua obra e mostrou à Agência Efe os minuciosos desenhos dos diferentes personagens e nos quais Creonte, por exemplo, aparece como uma espécie de Trujillo, ditador dominicano.
Embora "Burial on Thebes" seja a primeira ópera que dirige, Walcott trabalhou anteriormente com compositores em diversos musicais, que, segundo ele, são óperas do dia-a-dia.
"A música é, além disso, uma parte importante do teatro no Caribe. E eu mesmo escrevi canções para ritmos como o calipso ou o reggae", diz o poeta e fundador do Trinidad Theatre Workshop, seu grande orgulho.
Já a compositora Dominique Le Gendre, quando questionada sobre suas influências musicais, destaca, sem dúvida, o violão e os compassos do flamenco.
O produtor da ópera, Harry Ross, ex-colaborador de Giancarlo Menotti no festival de Spoleto (Itália), explica que a compositora utilizou, entre outros ritmos, o "rapso", mistura de reggae e calipso.
"Burial on Thebes" é produzida por Manning Camerata, conjunto fundado pelo violinista e diretor de orquestra Peter Manning, que dirigirá um grupo de 13 músicos - aos quais se somarão dez cantores, dois atores e um dançarino.
Ele elogia a compositora, a quem qualifica de "magnífica colorista".
Sobre a acústica do Globe Theatre, onde a obra vai estrear, um teatro que reproduz fielmente o original da época de Shakespeare, o músico britânico afirma que é "excelente", graças, entre outras coisas, ter sido construído com madeira.
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