Parte do espólio de Fernando Pessoa vai hoje ser leiloado em Lisboa, podendo o governo exercer direito de preferência sobre qualquer dos documentos ou objectos se assim o entender.
"Ao classificar o espólio, o Estado já garantiu que nada sairá do país. Se algum documento ou objecto considerado de grande importância ficar nas mãos de privados, poderá ser exercido o direito de preferência, dependendo, é claro, da importância dos documentos e dos valores envolvidos", disse uma fonte ligada ao processo.
O anúncio da classificação do espólio de Fernando Pessoa como Património Nacional foi publicado no Diário da República no dia 23 de Outubro, tendo os herdeiros do poeta disposto de 20 dias para contestar esta acção.
Contudo, apesar de na altura terem dito que o caso fora entregue a um advogado, até hoje nenhuma contestação foi interposta, o que implica a permanência definitiva em território nacional do espólio, ainda que este fique nas mãos de privados.
Além disso, a classificação implica que quem tenha qualquer documento de Fernando Pessoa seja obrigado por lei a participar o facto à Biblioteca Nacional de Portugal, que lhe seguirá o rasto.
A decisão do Estado português foi aplaudida mas algumas personalidades consideram que o governo deveria adquirir o espólio. "Já que o Estado tem gasto tanto em obras de arte, poderia também comprar a restante documentação do poeta", disse Richard Zenith, um dos principais investigadores da obra de Fernando Pessoa.
Mais longe vai José Taborda Barreto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que considera existirem "motivos para pensar que estamos à beira de um acontecimento funesto para o espólio de Fernando Pessoa e para a cultura portuguesa", em carta ao ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro.
A notícia do leilão do espólio de Fernando Pessoa tem atraído a atenção da comunicação social internacional, esperando-se que hoje estejam a seguir o caso vários dos seus representantes.
O dossier Pessoa-Crowley, com mais de 800 páginas, tem despertado grande curiosidade em toda a Europa culta. Este ano, por exemplo, o Centro Georges Pompidou, em Paris, dedicou uma exposição a Aleister Crowley, um personagem controverso, considerado pai do satanismo, escritor, poeta, pintor e pioneiro do alpinismo.
A relação de Pessoa com Crowley, conhecido também pela sexualidade estranha, tem fascinado os investigadores, nomeadamente o caso do falso suicídio do pretenso mago na Boca do Inferno, perto de Cascais, existindo alguma expectativa quanto ao conteúdo do dossier que hoje vai a leilão.
Ainda segundo Luiz Miguel Roza, sobrinho do poeta, foram efectuadas cópias digitais de todos os documentos que constam desta parte do espólio, que deveram ser entregues na Casa Fernando Pessoa, para consulta dos interessados.
A famosa arca de madeira, onde o poeta guardava os seus papéis, edições raras, fotografias e vários documentos poderão alcançar no leilão de hoje um valor aproximado de 400 mil euros.
Cortesia de O Público
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