«Que o importante era o alexandrino, / dois cascos a galope encurvando o verso». Se a literatura moçambicana é rica pela sua diversidade de vozes, então uma das mais interessantes é, sem dúvida, a de Luís Carlos Patraquim, poeta capaz de nos surpreender com versos como «se a tarde tropeçasse no arco-íris» ou «e o sulco da cobra lavrando / o pomar de deus».
Nas poucas páginas de Pneuma (a importância de um livro também nunca se mediu pelo seu tamanho) encontram-se evocações de amigos poetas como Noémia de Sousa, Rui Knopfli ou Rui Nogar, páginas em que chocam línguas universais e idiomas nacionais como se todos fossem «as ancas da ragazza blonde», o solar elogio dos sentidos onde se não esquece essas «Escócias destiladas», «a garrafa de rum da poesia», «o vinho [que] regressa à fonte». E há ainda o sarcasmo com que se olha o perfeição dos géneros - pois «o soneto é um novilho sem cabresto» - ou se evocam as raízes longínquas dos trovadores portugueses - «Do meu amigo chegarão as flores / ai, deus, e u é?» Chega para perceber que a literatura moçambicana não se resume a Mia Couto ou a José Craveirinha. Há muito mais - «pela tarde onde caminho, / e a pedra se inscreve no sol que neva.»
Cortesia de DN
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