O poeta Miguel de Castro faleceu aos 84 anos, no hospital de São Bernardo, onde estava internado há duas semanas. Teófilo Duarte, amigo e editor de Miguel de Castro na Estuário, considera que este é “o poeta que melhor escreve em Setúbal”, realçando que “até é redutor dizer que é o melhor de Setúbal”, uma vez que é um “grande poeta em qualquer parte do Mundo”. “É um poeta do corpo e das mulheres, que adorava”, lembra Teófilo Duarte, apontando a “carga sexual muito acentuada” da sua obra.
João Reis Ribeiro, da Associação Cultural Sebastião da Gama, realça “a mulher e o erotismo” como as linhas temáticas da obra de Miguel de Castro, considerando que “a figura feminina era quase uma obsessão, do ponto de vista do amor até ao erotismo mais romântico e excessivo”. Além disso, acrescenta “a paisagem ligada ao mar e à região”, lembrando a influência da literatura francesa e, sobretudo, de Sebastião da Gama, que o “descobriu e ajudou”, numa poesia “acentuadamente lírica, dentro da tradição literária portuguesa”.
Também Manuel Medeiros, da livraria Culsete e que, nos anos 80, “empenhou-se a sério em ressuscitar o poeta”, considera que a relação entre o percurso literário de Miguel de Castro e a “grande alma” de Sebastião da Gama foi a “grande lição” que deixou. Manuel Medeiros realça que a morte de Sebastião da Gama foi “traumatizante” para Miguel de Castro, que se sentiu “desamparado e ficou 40 anos sem publicar”. Além disso, considera o poeta “um mestre” na temática erótica e acrescenta que a sua obra se distingue pela “perfeição da sua sensibilidade”.
João Reis Ribeiro entende que é “urgente” que a obra de Miguel de Castro seja reeditada, visto que os seus livros estão todos inacessíveis, com excepção do último, “Sonetos”. Além disso, considera que também “valeria a pena serem divulgados os seus textos inéditos”. Teófilo Duarte revela que “está a reunir” a obra do poeta para a “publicar em breve”, assim como o lançamento de um site sobre a sua vida, uma vez que o “mais importante é divulgar e conhecer a obra” de Miguel de Castro.
Teófilo Duarte, que sublinha que Miguel de Castro seria “o orgulho de qualquer cidade”, considera que o poeta foi algo esquecido em Setúbal. Sem querer “culpar poderes”, aponta que a cidade “está mal servida de política”, a quem acusa de “só promover e perceber que existe quem se dá a mostrar”. João Reis Ribeiro concorda que Miguel de Castro “caiu um pouco no esquecimento” depois da popularidade nos anos 60 e, por isso, revela que vai “formalizar uma proposta” para que seja atribuído o nome do poeta a uma rua de Setúbal, uma vez que é “um valor poético interessante para a região e para Portugal”.
Por sua vez, Manuel Medeiros não acha que tenha havido falta de reconhecimento para com Miguel de Castro. Na sua opinião, o poeta “estabeleceu o seu terreno e, dentro do que procurou, foi respeitado e acarinhado”, lembrando que “toda a gente o tratou com enorme carinho” durante a juventude e quando reapareceu. Além disso, considera que o facto de o seu nome “vir ao de cima” nesta altura em que desapareceu, demonstra o “respeito” que as pessoas têm por si.
Miguel de Castro é o pseudónimo literário de Jasmim Rodrigues da Silva, que nasceu em Valadares em 1925 e mudou-se para Setúbal ainda durante a juventude. O poeta publicou em vida cinco livros, uma obra “curta” que, segundo João Reis Ribeiro, deveu-se ao seu “critério exaustivo”. Teófilo Duarte destaca o livro “Sonetos” como uma “obra ímpar”, uma “pedrada” que surgiu quando “ninguém estava à espera e já poucos faziam sonetos”. Manuel Medeiros sublinha que foi Miguel de Castro, juntamente com Natália Correia, que “ressuscitou o género”. No entanto, considera como sua obra-prima o livro de 1990, “Terral”. Por sua vez, João Reis Ribeiro prefere realçar que “o homem desapareceu, mas a sua obra ficou”.
Cortesia de Setúbal na Rede
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