A vida e obra de García Lorca pelo que foram e são adquiriram uma grandeza mítica com o poeta ainda vivo, dimensão que aumentou com a sua morte prematura e trágica, a Guerra Civil espanhola de 1936-1939, o silenciamento que o poder franquista impôs à sua obra, à sua ida, à sua morte.
Hoje, passados, mais de 60 anos sobre a madrugada de Agosto de 1936 em que o poeta se tornou um dos símbolos da Espanha martirizada, investigada a sua vida e sujeita a notáveis esforços de revisão textual a sua obra, podemos ter do poeta uma imagem desmistificada, em que ele deixou de ser alguém puramente mágico e o poeta os ciganos, para ser visto como um homem perturbado pelas suas inquietações íntimas e anseios artísticos múltiplos, consciente dos meios que procurava para a obra que escreveu com febril entusiasmo e domínio total os elementos que empregava, que fizeram dele um dos maiores escritores espanhóis do século XX. A sua obra desvenda alguém com o coração ferido, dominado sempre por agouros e ameaças de morte, para quem o amor raramente é plenitude, sendo um espaço desolado e sombrio.
Frederico García Lorca nasceu a 5 de Junho de 1898, em Fuente Vaqueros, aldeia próxima de Granada, primogénito de um abastado proprietário de terras e da professora a localidade. A sua infância decorreu num ambiente rural, perto da terra, das fainas agrícolas e das gentes que delas viviam, até que em 1908 foi com a família residir em Granada.
Demonstrando uma grande vocação musical em menino, estudou piano até 1916. Estudou depois Direito na Universidade de Granada até 1923, nunca tendo exercido qualquer actividade relacionada com o curso.
Na primavera de 1919 , García Lorca foi para Madrid e habitou na Residencia de Estudiantes, que tinha como objectivo promover uma cultura laica, em que a ciência e as humanidades se juntavam à literatura e às artes, num projecto de reforma da mentalidade espanhola (por lá passaram outros poetas célebres como, por exemplo, Juan Ramón Jimenez). García Lorca associa-se ao Grupo poético de 1927, em que constam outros nomes como os de Luís Cernuda, Rafael Alberti ou Jorge Guíllen, tendo como base comum um fundo cultural que se refere à influência dos movimentos vanguardistas europeus, começando pelo futurismo e o dadaísmo, evoluindo para a prática de um surrealismo que nunca foi escrita automática, mas um irracionalismo intenso. As suas obras envolviam um protesto total contra sociedade e contra as bases em que esta se achava sustentada.
Em 13 Julho de 1936 o poeta foi de madrid para Granada, par fugir ao ambiente de agitação que aí se vivia após diversos incidentes, entre os quais o assassínio do deputado José Calvo Sovelo, chefe dos monárquicos e das forças conservadoras que queriam derrubar a república. Após diversos incidentes, que demonstraram que a situação era de grande perigo para a família García Lorca, em 9 de Agosto Frederico foi refugiar-se em casa do poeta Luis Rosales, sendo que já havia sido procurado em várias casas pelas autoridades nacionalistas que impunham o terror em Granada. Terá sido a irmã do poeta que, perante a ameaça das autoridades de prender ou executar de imediato o seu pai, revelou a localização de Frederico, supondo-o a salvo por se encontrar em casa de membros importantes da Falange de Granada. Frederico foi preso pelos franquistas na tarde de 16 de Agosto e fuzilado na madrugada de 18 seguinte, num campo dos arredores de Granada. O seu corpo nunca foi encontrado.
Avesso à violência, o poeta, como homossexual que era, sabia muito bem o quanto era doloroso sentir-se ameaçado e perseguido. Nessa época, suas peças teatrais "A casa de Bernarda Alba", "Yerma", "Bodas de sangue", "Dona Rosita, "a solteira" e outras, eram encenadas com sucesso. O seu assassínio teve repercussão mundial.
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