"Surgis de novo, figuras fugidias / Que ao turvo olhar vos mostraste outrora." Como Homero, Dante, Shakespeare, Hugo ou Tolstoi, o alemão Goethe (1749-1832) é universal e intemporal. E mesmo quem nunca leu os versos iniciais de Fausto, aqui na tradução de João Barrento (Relógio d'Água), conhece o nome do autor cujo talento, na síntese de Eça de Queirós, é "vasto como o universo".
Bastava, pois, um Goethe para fazer uma literatura.
E, no entanto, das lendas germânicas que inspiraram Wagner à moderna dramaturgia de Marius von Mayenburg (nasceu em 1972), dos Hinos à Noite de Novalis a Berlin Alexanderplatz de Alfred Döblin, da épica Canção de Hildebrando ao filosófico A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica de Walter Benjamin, dos manifestos políticos aos tratados científicos, de A Marquesa de O de Kleist a Austerlitz de W. G. Sebald, não há biblioteca que não esteja recheada de títulos assinados por alemães.
Na estante da poesia, em convívio com Goethe, esse monstro do romantismo, além de Shiller, o seu companheiro no movimento Sturm und Drang (que tanta importância teve na unificação alemã) e cuja Ode à Alegria inspirou Beethoven a compor um movimento da Nona Sinfonia, é fácil encontrar Heine, Hölderlin, Trakl, Rilke. E, também, a inquietação do filósofo Adorno: "Depois de Auschwitz não há poesia possível."
Nas prateleiras do romance uma multidão de autores entre os compatriotas do escritor de Werther e de Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meisters. Afinal, não será por acaso que o país de Goethe tem ao todo 11 Nobel da Literatura (e aqui apenas a França, com um total de 12, supera a Alemanha): o historiador Theodor Mommsen, o filósofo Rudolf Eucken, o novelista Paul Heyse, o dramaturgo Gerhart Hauptmann, o poeta Carl Spitteler, Thomas Mann (Os Budden- brook, Morte em Veneza, A Montanha Mágica, O Doutor Fausto), Hermann Hesse (Siddhartha, O Lobo da Estepe, Gertrud, Narciso e Goldmund), a poetisa Nelly Sachs, Heinrich Böll (A Honra Perdida de Katharina Blum), Günter Grass (O Tambor, O Gato e o Rato, A Ratazana, O Meu Século, Descascando a Cebola, A Caixa), Herta Müller.
E, depois, nem sequer faltam autores na área da literatura infantil, numa extensa lista de clássicos que vai de A Branca de Neve dos Irmãos Grimm a Emílio e os Detectives de Erich Kästner.
Mude-se, então, para a secção de teatro, género que Goethe também cultivou com, por exemplo, Ifigénia na Taúrida: a escolha vai de George Büchner (Woyzeck, A Morte de Danton, Lenz, Leôncio e Lena) a Frank Wedekind (O Despertar da Primavera, A Caixa de Pandora), de Heiner Müller (A Missão, Germânia 3: Os Espectros do Morto-Homem, Mauser, Máquina Hamlet), a Botho Strauss (O Parque, Sete Portas, Rumor, O Tempo e o Quarto, O Bobo e a sua Mulher esta Noite na Pancomédia), embora o mais famoso de todos tenha sido, de facto, Bertolt Brecht (A Ópera dos Três Vinténs, A Excepção e a Regra, Mãe Coragem, O Círculo de Giz Caucasiano).
E se não há páginas que cheguem para fazer a devida justiça aos autores alemães, de Tankred Dorst a Hans Magnus Enzensberger, de Erich Maria Remarque a Christa Wolf, há ainda o problema de excluir mestres de língua germânica como o checo Franz Kafka ou o romeno-francês Paul Celan, os austríacos Robert Musil, Thomas Bernhard e Peter Handke, os suíços Max Frisch e Friedrich Dürrenmatt. Mas todos conhecerão os versos de Goethe: "Cabem em meu coração tais fantasias? / Serei capaz de vos reter agora?"
Cortesia de DN
Bastava, pois, um Goethe para fazer uma literatura.
E, no entanto, das lendas germânicas que inspiraram Wagner à moderna dramaturgia de Marius von Mayenburg (nasceu em 1972), dos Hinos à Noite de Novalis a Berlin Alexanderplatz de Alfred Döblin, da épica Canção de Hildebrando ao filosófico A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica de Walter Benjamin, dos manifestos políticos aos tratados científicos, de A Marquesa de O de Kleist a Austerlitz de W. G. Sebald, não há biblioteca que não esteja recheada de títulos assinados por alemães.
Na estante da poesia, em convívio com Goethe, esse monstro do romantismo, além de Shiller, o seu companheiro no movimento Sturm und Drang (que tanta importância teve na unificação alemã) e cuja Ode à Alegria inspirou Beethoven a compor um movimento da Nona Sinfonia, é fácil encontrar Heine, Hölderlin, Trakl, Rilke. E, também, a inquietação do filósofo Adorno: "Depois de Auschwitz não há poesia possível."
Nas prateleiras do romance uma multidão de autores entre os compatriotas do escritor de Werther e de Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meisters. Afinal, não será por acaso que o país de Goethe tem ao todo 11 Nobel da Literatura (e aqui apenas a França, com um total de 12, supera a Alemanha): o historiador Theodor Mommsen, o filósofo Rudolf Eucken, o novelista Paul Heyse, o dramaturgo Gerhart Hauptmann, o poeta Carl Spitteler, Thomas Mann (Os Budden- brook, Morte em Veneza, A Montanha Mágica, O Doutor Fausto), Hermann Hesse (Siddhartha, O Lobo da Estepe, Gertrud, Narciso e Goldmund), a poetisa Nelly Sachs, Heinrich Böll (A Honra Perdida de Katharina Blum), Günter Grass (O Tambor, O Gato e o Rato, A Ratazana, O Meu Século, Descascando a Cebola, A Caixa), Herta Müller.
E, depois, nem sequer faltam autores na área da literatura infantil, numa extensa lista de clássicos que vai de A Branca de Neve dos Irmãos Grimm a Emílio e os Detectives de Erich Kästner.
Mude-se, então, para a secção de teatro, género que Goethe também cultivou com, por exemplo, Ifigénia na Taúrida: a escolha vai de George Büchner (Woyzeck, A Morte de Danton, Lenz, Leôncio e Lena) a Frank Wedekind (O Despertar da Primavera, A Caixa de Pandora), de Heiner Müller (A Missão, Germânia 3: Os Espectros do Morto-Homem, Mauser, Máquina Hamlet), a Botho Strauss (O Parque, Sete Portas, Rumor, O Tempo e o Quarto, O Bobo e a sua Mulher esta Noite na Pancomédia), embora o mais famoso de todos tenha sido, de facto, Bertolt Brecht (A Ópera dos Três Vinténs, A Excepção e a Regra, Mãe Coragem, O Círculo de Giz Caucasiano).
E se não há páginas que cheguem para fazer a devida justiça aos autores alemães, de Tankred Dorst a Hans Magnus Enzensberger, de Erich Maria Remarque a Christa Wolf, há ainda o problema de excluir mestres de língua germânica como o checo Franz Kafka ou o romeno-francês Paul Celan, os austríacos Robert Musil, Thomas Bernhard e Peter Handke, os suíços Max Frisch e Friedrich Dürrenmatt. Mas todos conhecerão os versos de Goethe: "Cabem em meu coração tais fantasias? / Serei capaz de vos reter agora?"
Cortesia de DN
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