Artistas plásticos, músicos, poetas e escritores encontram no Brooklyn refúgio e cenário e dali partem para expedições ultramarinas na Califórnia, na Índia, na França, na América Latina, na África, a book tour perhaps. Discussões literárias, conversas boêmias, propostas, idéias para livros em ebulição: the Brooklyn follies estão aí para ficar. Os agentes literários se distinguem pelas pilhas de manuscritos e contratos que carregam soltos, arriscando-se no vento forte de inverno, tudo vale pelo próximo bestseller, as páginas podem voar como pombos ousados. Os americanos têm a capacidade de transformar a arte em business talk, mesmo que façam small talk, as they say. Escritores, alguns personas mascaradas pela mídia, e poetas, verdadeiros heróis na odisséia pela poesia sobrevivente são protagonistas na tal história.
Agentes literários estabanados, com os cabelos em desconcerto, trocam figurinhas pelas ruas do bairro. As editoras gigantescas verdadeiros king kongs a pular de um empire state visível à distância buscam nova identidade. Em contraponto, a insurgência de pequenas editoras e escritores emergentes, pequenas bolhas a ponto de estourar como os “brics”. Walt Whitman ali começou a sua carreira na prensa. As alterações climáticas são inegáveis, em todas as suas frentes.
A agente na mesa vizinha é uma mulher pachorrenta, daquelas cujo rosto não perde o suor engordurado, o cabelo vem preso em um elástico de borracha na pressa de cumprir o horário com o cliente, um senhor idoso de barba branca bem aparada (a semelhança com o bom velhinho natalino faz-se inegável), ele agita as mãos trêmulas, tem as unhas bem tratadas e compridas. Os dois decidem dividir a conta após um sanduíche de baguette e brie, metade para cada um. É possível ler-se Proust sem o conhecimento do idioma francês, indaga o escritor. É possível considerar-se conhecedor de queijos franceses havendo apenas experimentado versões pasteurisadas?, questiono. Os nomes de ambos restam anônimos, não há de se revelar segredos nos canais virtuais. A conversa se encerra: o mercado editorial encontra-se em queda espiral, há de se contactar a New York Review of Books e discutir-se este tema aflito.
A ponte que liga o Brooklyn a Manhattan desde 1883 simboliza a modernidade e foi homenageada por Jack Kerouac em Brooklyn Bridge Blues. Para os amantes da literatura, os livros não podem deixar de existir, não importa a forma, o barro se molda. Nas brownstones do Brooklyn, labutam escritores de origem anglo-saxã, com a sua prosa ultra-realista; europeus em busca de contemporaneidade vis-à-vis o “velho continente”; asiáticos na mélange milenar; africanos, inclusive muçulmanos, expondo os conflitos que os circundam; e latino-americanos, caribenhos inclusos, a tocar nas palavras com fantasia tropical. Em alguma casa durante o verão, estudantes se reúnem para debater Proust sob a tutela do escritor cuja identidade guardamos.
Dentre os encontros mais disputados no Brooklyn, salientam-se os almoços com Paul Auster, autor da Trilogia de Nova York e do recém lançado Invisível. Ricky Moody introduz Auster ao público elogiando-o pela generosidade como mentor. Auster leciona em cursos de escrita criativa, não faz segredos do ofício (embora a prosa de Auster não chegue a impressionar, críticos como James Wood acusam-no de pecar pela ausência de silêncio em suas palavras e uso abundante de clichês que pouco espaço deixam ao leitor, e muito embora, os livros de Ricky Moody restrinjam-se a um público determinado). Uma confraria, no entanto, pulsa nas margens do East River. O poeta Philippe Levine é um daqueles a transformar em versos as caminhadas por Brooklyn Heights, a misturar a universalidade desta ponta de mundo com o hoje e agora. Os seus poemas tratam da falência de Detroit, das cidades fantasma no countryside inglês, do impacto da segunda guerra mundial, de internações hospitalares, das formações montanhosas da Califórnia, dos vazios da Austrália. A prosa de Carmen Bullosa, outra brooklynite, busca uma comunhão entre os dois mundos da autora, imigrantes mexicanos/latinos experimentam Nova York, em seu livro de contos El Fantasma y el poeta, aparições tocam a Ruben Dario e à autora na Dean Street, Brooklyn. O livro verte sobre temas variados desde a presença de Santa Teresa em um hospital metropolitano a uma mulher solitária perseguida por um telefonema misterioso. Amitav Ghosh escreve do Brooklyn e da Índia sobre os mares de papoulas, aventureiros, navios, palácios de vidro, a trilogia do Íbis.
Nas primaveras, um grupo de afetos sai da Poets House em Manhattan para uma caminhada em que se atravessa a Brooklyn Bridge na sola do sapato enquanto são lidos poemas e prosa inspirados no monumento. Há de se esperar o passar da brisa cortante para se desfrutar em 2010 de uma nova aventura em que se transponha fronteiras físicas e metafísicas quais as experimentadas pela barca a ligar lado a lado de duas cidades, de dois mundos simbióticos, precedendo a construção magnificente.
Cortesia de PNETLiteratura
Agentes literários estabanados, com os cabelos em desconcerto, trocam figurinhas pelas ruas do bairro. As editoras gigantescas verdadeiros king kongs a pular de um empire state visível à distância buscam nova identidade. Em contraponto, a insurgência de pequenas editoras e escritores emergentes, pequenas bolhas a ponto de estourar como os “brics”. Walt Whitman ali começou a sua carreira na prensa. As alterações climáticas são inegáveis, em todas as suas frentes.
A agente na mesa vizinha é uma mulher pachorrenta, daquelas cujo rosto não perde o suor engordurado, o cabelo vem preso em um elástico de borracha na pressa de cumprir o horário com o cliente, um senhor idoso de barba branca bem aparada (a semelhança com o bom velhinho natalino faz-se inegável), ele agita as mãos trêmulas, tem as unhas bem tratadas e compridas. Os dois decidem dividir a conta após um sanduíche de baguette e brie, metade para cada um. É possível ler-se Proust sem o conhecimento do idioma francês, indaga o escritor. É possível considerar-se conhecedor de queijos franceses havendo apenas experimentado versões pasteurisadas?, questiono. Os nomes de ambos restam anônimos, não há de se revelar segredos nos canais virtuais. A conversa se encerra: o mercado editorial encontra-se em queda espiral, há de se contactar a New York Review of Books e discutir-se este tema aflito.
A ponte que liga o Brooklyn a Manhattan desde 1883 simboliza a modernidade e foi homenageada por Jack Kerouac em Brooklyn Bridge Blues. Para os amantes da literatura, os livros não podem deixar de existir, não importa a forma, o barro se molda. Nas brownstones do Brooklyn, labutam escritores de origem anglo-saxã, com a sua prosa ultra-realista; europeus em busca de contemporaneidade vis-à-vis o “velho continente”; asiáticos na mélange milenar; africanos, inclusive muçulmanos, expondo os conflitos que os circundam; e latino-americanos, caribenhos inclusos, a tocar nas palavras com fantasia tropical. Em alguma casa durante o verão, estudantes se reúnem para debater Proust sob a tutela do escritor cuja identidade guardamos.
Dentre os encontros mais disputados no Brooklyn, salientam-se os almoços com Paul Auster, autor da Trilogia de Nova York e do recém lançado Invisível. Ricky Moody introduz Auster ao público elogiando-o pela generosidade como mentor. Auster leciona em cursos de escrita criativa, não faz segredos do ofício (embora a prosa de Auster não chegue a impressionar, críticos como James Wood acusam-no de pecar pela ausência de silêncio em suas palavras e uso abundante de clichês que pouco espaço deixam ao leitor, e muito embora, os livros de Ricky Moody restrinjam-se a um público determinado). Uma confraria, no entanto, pulsa nas margens do East River. O poeta Philippe Levine é um daqueles a transformar em versos as caminhadas por Brooklyn Heights, a misturar a universalidade desta ponta de mundo com o hoje e agora. Os seus poemas tratam da falência de Detroit, das cidades fantasma no countryside inglês, do impacto da segunda guerra mundial, de internações hospitalares, das formações montanhosas da Califórnia, dos vazios da Austrália. A prosa de Carmen Bullosa, outra brooklynite, busca uma comunhão entre os dois mundos da autora, imigrantes mexicanos/latinos experimentam Nova York, em seu livro de contos El Fantasma y el poeta, aparições tocam a Ruben Dario e à autora na Dean Street, Brooklyn. O livro verte sobre temas variados desde a presença de Santa Teresa em um hospital metropolitano a uma mulher solitária perseguida por um telefonema misterioso. Amitav Ghosh escreve do Brooklyn e da Índia sobre os mares de papoulas, aventureiros, navios, palácios de vidro, a trilogia do Íbis.
Nas primaveras, um grupo de afetos sai da Poets House em Manhattan para uma caminhada em que se atravessa a Brooklyn Bridge na sola do sapato enquanto são lidos poemas e prosa inspirados no monumento. Há de se esperar o passar da brisa cortante para se desfrutar em 2010 de uma nova aventura em que se transponha fronteiras físicas e metafísicas quais as experimentadas pela barca a ligar lado a lado de duas cidades, de dois mundos simbióticos, precedendo a construção magnificente.
Cortesia de PNETLiteratura
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