Aurelino Costa transmite-nos de uma forma admiravelmente impressiva a mensagem dos poetas. Nomeadamente a de Miguel Torga. A Junção da música improvisada à solidez dos textos escritos torna-se quase intuitiva, tão natural no calor de um palco como na teórica frieza de um estúdio de gravação. Por tudo isto é sempre para mim uma experiência fascinante trabalhar em conjunto com este extraordinário declamador. Assim escreveu o maestro António Victorino D’Almeida, que acompanha ao piano o poeta poveiro, no CD de poesia de Miguel Torga.
A Voz da Póvoa – Depois de José Régio porquê a poesia de Miguel Torga?
Aurelino Costa – Foi um convite da editora Numérica e da casa Miguel Torga, em Coimbra. Trata-se de uma viagem sobre a obra de Torga que está indissociável à sua própria vida, ao seu tempo e para lá dele. A selecção de textos é feita por mim com total liberdade. A intenção é celebrar a obra do poeta.
A.V.P. – Nesta relação com o maestro nunca há um trabalho de ensaio?
A.C. – Não. Como compositor o maestro é um criativo, do momento, da hora. Todos os recitais são diferentes, mesmo quando os poemas são os mesmos. Nesta sintonia, a árvore começa a frutificar os sons e as palavras. Neste mundo da arte, o mínimo que se exige é o acrescento, sem ele não existe arte no contemporâneo, pode existir imitações.
A.V.P. – No recital há que contar com o acto criativo do indivíduo que diz?
A.C. – Dizer não é só comunicar, temos que transmitir a cor, o cheiro, tem que haver propósitos de ternura ou explosivos. O texto entra-nos no corpo, é um dizer por dentro, um estar em substância. É isso que provoca o sonho e o espanto de quem nos ouve. Para se vingar do seu tempo, o criador tem que criar uma identidade própria.
A.V.P. – Porque é que o Aurelino poeta edita pouco?
A.C. – Na arte o tempo é o mais sensato. O poeta ou o escritor começa, numa determinada altura da sua vida, a tomar consciência dessa personagem que está dentro dele. O poeta é o estando, às vezes está-se poeta. Quando aparece a poesia é por factores estranhos à razão. Há que dizer o que não está dito, pelo menos dizer de outra maneira.
A.V.P. – Não receia que a sua escrita possa beber dos poetas que diz?
A.C. – Sei perfeitamente separar. Se há algum pingo que cheira a este ou aquele poeta é preciso retirá-lo. No estudo que faço da obra dos poetas, da sua meditação, dou-lhes tempo, espaço e respirações da minha própria vida. Não vou em modas nem modismos. Fundamentalmente a poesia reside no não fingimento, no promontório de dor que falava o Raul Brandão, no Humos.
A.V.P. – Depois do Filme de Tabajara Ruas, vai voltar a contracenar?
A.C. – Fiz uma personagem no filme “o General Neto e o Domador de Cavalos” e, irei participar no filme, os Senhores da Guerra, que começa a ser rodado em Março de 2010. Não me sinto actor. Ser actor exige muito mais trabalho. No dizer estou vestido de poesia, não há uma pauta que me guia, e o actor tem sempre que se despir de si, para vestir o personagem.
A.V.P. – O poema Lusitânia do Bairro Latino, de António Nobre, é como um filme?
A.C. – Esse poema ficou-me sempre inteiro na alma. Vivi sempre a sensação de um filme, de um peregrinar pelo mar. Desenhou-se a ideia de uma curta-metragem, com 20 a 30 minutos. Já temos algum trabalho feito, no fim do próximo ano poderá estar pronto a rodar. É uma homenagem aos pescadores do António Nobre. O poema é uma obra de arte e, a ideia é partir do poema para outra obra de arte, estilizar um outro.
A Voz da Póvoa – Depois de José Régio porquê a poesia de Miguel Torga?
Aurelino Costa – Foi um convite da editora Numérica e da casa Miguel Torga, em Coimbra. Trata-se de uma viagem sobre a obra de Torga que está indissociável à sua própria vida, ao seu tempo e para lá dele. A selecção de textos é feita por mim com total liberdade. A intenção é celebrar a obra do poeta.
A.V.P. – Nesta relação com o maestro nunca há um trabalho de ensaio?
A.C. – Não. Como compositor o maestro é um criativo, do momento, da hora. Todos os recitais são diferentes, mesmo quando os poemas são os mesmos. Nesta sintonia, a árvore começa a frutificar os sons e as palavras. Neste mundo da arte, o mínimo que se exige é o acrescento, sem ele não existe arte no contemporâneo, pode existir imitações.
A.V.P. – No recital há que contar com o acto criativo do indivíduo que diz?
A.C. – Dizer não é só comunicar, temos que transmitir a cor, o cheiro, tem que haver propósitos de ternura ou explosivos. O texto entra-nos no corpo, é um dizer por dentro, um estar em substância. É isso que provoca o sonho e o espanto de quem nos ouve. Para se vingar do seu tempo, o criador tem que criar uma identidade própria.
A.V.P. – Porque é que o Aurelino poeta edita pouco?
A.C. – Na arte o tempo é o mais sensato. O poeta ou o escritor começa, numa determinada altura da sua vida, a tomar consciência dessa personagem que está dentro dele. O poeta é o estando, às vezes está-se poeta. Quando aparece a poesia é por factores estranhos à razão. Há que dizer o que não está dito, pelo menos dizer de outra maneira.
A.V.P. – Não receia que a sua escrita possa beber dos poetas que diz?
A.C. – Sei perfeitamente separar. Se há algum pingo que cheira a este ou aquele poeta é preciso retirá-lo. No estudo que faço da obra dos poetas, da sua meditação, dou-lhes tempo, espaço e respirações da minha própria vida. Não vou em modas nem modismos. Fundamentalmente a poesia reside no não fingimento, no promontório de dor que falava o Raul Brandão, no Humos.
A.V.P. – Depois do Filme de Tabajara Ruas, vai voltar a contracenar?
A.C. – Fiz uma personagem no filme “o General Neto e o Domador de Cavalos” e, irei participar no filme, os Senhores da Guerra, que começa a ser rodado em Março de 2010. Não me sinto actor. Ser actor exige muito mais trabalho. No dizer estou vestido de poesia, não há uma pauta que me guia, e o actor tem sempre que se despir de si, para vestir o personagem.
A.V.P. – O poema Lusitânia do Bairro Latino, de António Nobre, é como um filme?
A.C. – Esse poema ficou-me sempre inteiro na alma. Vivi sempre a sensação de um filme, de um peregrinar pelo mar. Desenhou-se a ideia de uma curta-metragem, com 20 a 30 minutos. Já temos algum trabalho feito, no fim do próximo ano poderá estar pronto a rodar. É uma homenagem aos pescadores do António Nobre. O poema é uma obra de arte e, a ideia é partir do poema para outra obra de arte, estilizar um outro.
Cortesia de A Voz da Póvoa
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