Torquato Tasso pode ser considerado um dos grandes poetas italianos do Barroco – ou Renascimento tardio, sempre lembrado pela obra-prima Jerusalém libertada, de 1575.
Tasso nasceu em Sorrento, próximo de Nápoles, no dia onze de março de 1544. A sua família, de posses, tinha ramos por toda a Europa, notadamente os Táxis, da Alemanha. Ele iniciou os seus estudos numa escola jesuíta, em Nápoles, além de haver sido educado em casa, por seu pai, Bernardo Tasso, um famoso poeta da época, descendente de família nobre – os Porzia de Rossi – e que se precisou exilar de Nápoles, vindo a exercer postos em diversos lugares. Assim, Torquato Tasso continuou a sua educação em várias cidades italianas; mas foi especialmente em Urbino, onde teve a oportunidade de estudar na corte do Duque Guidobaldo II delle Rovere, que se deu o verdadeiro teatro da sua formação literária, científica e cavalheiresca.
Com a morte da sua mãe, (em 1556), a família mudou-se para Veneza (em 1559), onde estudou Direito, por vontade de seu pai, mas com o tempo foi se dedicando ao seu gosto pela Filosofia, na Universidade de Pádua. Um dos seus amigos em Pádua era Vicenzo Gonzaga, mais tarde um famoso cardeal, que muito o ajudou. Nesse período, escreveu três ensaios. Com 18 anos, em 1561, começou a escrever o poema narrativo "Rinaldo", sobre o cavaleiro Godfrey de Bouillon: compôs o primeiro canto em 1562 seguiu para Bologna, onde continuou os estudos e aprimorou a técnica lírica. Foi no mesmo ano que esteve a serviço do cardeal Luigi d'Este, ao concluir o trabalho, dedicou-o ao Cardeal. A mesma obra propiciou-lhe a oportunidade de escrever a sua "teoria romanesca", segundo a qual a unidade do género dependeria da presença de um único protagonista – o que ensejou uma grande polémica com o autor de Orlando furioso, Ariosto.
Mais tarde, ainda em Ferrara, entrando a serviço do cardeal Luigi d'Este e, mais tarde, de seu irmão, o duque Alfonso II, como um poeta da corte. Foi durante esse período que escreveu o drama pastoril Aminta (1573), dando continuidade a um género apreciadíssimo desde mais ou menos um século; e sua mais célebre obra, Jerusalém libertada (Gerusalemme Liberata), composta entre 1559 e 1575 – cuja motivação foi a vitória de Lepanto, em 1570.
Embora Torquato Tasso tenha deixado uma paixão em Pádua, nesse momento veio novamente a apaixonar-se por Lucrezia Bendidio, uma cantora, filha de um nobre de Ferrara. A ela Tasso dedicou os 42 poemas da sua Rime de gli Academici Eterei (1567), nos moldes de Petrarca. Mais tarde, no entanto, Lucrezia viria a casar-se com o conde Paolo Macchiavelli. Segundo a tradição posterior (o que pode ser inclusive lido na obra Torquato Tasso, de Goethe, de 1790; ou mesmo em Byron, em Os lamentos de Tasso), Tasso teria sido preso por sua paixão a Leonora d'Este, irmã do Duque. No entanto, a biografia de Ângelo Solerti, escrita em 1895, corrige o mito, demonstrando não ter sido verdadeiro tal facto.
A profunda fé religiosa, associada a uma resistência face à Reforma desenvolvida em Roma, na segunda metade do século XVI, foi marcando sua têmpera. Além disso, somando-se às suas ansiedades literárias e à sensibilidade de que era portador, começou a demonstrar um temperamento apaixonado, muitas vezes fruto de um remorso de consciência: o seu tormento advinha do que ele próprio considerava como "liberdades exageradas em seus poemas", o que o levou a consultar inúmeras vezes a Inquisição.
Após concluir a sua obra-prima, iniciou-se o período sombrio de sua vida, fruto da revisão minuciosa, moralista e enervante da obra: foi quando começou a sofrer de problemas mentais, fruto das críticas sofridas em grande parte por conta das dúvidas e suspeitas trazidas pelos "ortodoxos", que vieram a gerar grandes hostilidades a seu nome e trabalho. Nesse momento – e para piorar a sua situação, Tasso viajou com o cardeal d'Este para a França, vindo a ter maiores problemas quando respondeu ao rei Carlos IX (que elogiara o seu trabalho), em termos não-diplomáticos acerca da tolerância de protestantes na Corte.
A viagem desastrosa intensificou os problemas de Tasso. A partir daí, passou a não mais tolerar a crítica, temia ser assassinado e, inclusive, iniciou um círculo de negociações com os Medicis, que eram inimigos da casa d'Este, além de atacar um serviçal a facadas. Para culminar, quando o duque Alfonso II casou-se, ele proferir maldições em público. Tais factos vieram a provocar a declaração de sua insanidade mental e, a partir de 1579, condenado pelo Tribunal da Inquisição, ele permaneceu sete anos em tratamento, no hospital de Santa Anna, por ordem do Duque. Durante esse período escreveu vários diálogos morais e filosóficos, tendo sido visitado, em meio a esse quadro desolador, por Montaigne.
Tasso nunca mais adquiriu a sua sanidade mental. Foi libertado em 1586, por Vicenzo Gonzaga – seu colega na Universidade de Pádua, sob a condição de abandonar Ferrara. Simultaneamente, foi laureado pela sua obra, Jerusalém libertada, que havia ganho ampla popularidade. A partir daí iniciou-se um período migratório, de cidade em cidade pela Itália, infeliz e pobre, que provavelmente o moveu a escrever a tragédia Torrismondo, além de um poema sobre a criação do mundo, "Il mondo creato". Ele completou, durante esse período (em 1586), uma versão revista de Jerusalém, a que nomeou de Jerusalém conquistada – um trabalho de qualidade inferior em relação à consagrada obra-prima, embora tenha sido considerada mais satisfatória pelos críticos.
Em 1594, Tasso foi convidado pelo cardeal Aldobrandini para comparecer a Roma, a fim de ser coroado, pelo Papa Clemente VIII, "Poeta Laureado da Itália", no Campidoglio. No entanto, devido ao seu estado de saúde, grave, Tasso morreu em Roma no Convento de Sant' Onofrio, no dia 5 de abril de 1595, antes que pudesse aceitar a honra: mais precisamente na véspera.
Entre os seus trabalhos, estão cerca de dois mil poemas, incluindo sonetos e madrigais. Ele escreveu cartas, diálogos, tragédia, tratado sobre poética, além do épico que o consagrou.
Cortesia de Profª Gilda Korff Dieguez
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