Uma literatura exclusivamente poética: da poesia de combate à poesia intimista
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, cujas obras impregnadas de um espírito revolucionário, manifestam um carácter social. Os autores mais representativos são: Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwartz, Helder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá.
O colonialismo, a escravatura e a repressão são denunciados por esses autores que, no pós independência imediato apelam para a construção da Nação e invocam a liberdade e a esperança num futuro melhor. O tema da identidade é abordado através de diferentes situações: a humilhação do colonizado, a alienação ou assimilação e a necessidade de afirmação da identidade nacional.
Note-se porém que a questão de identidade não é apresentada como um factor de oposição entre o indivíduo e a sociedade na qual este evolui. Ela é analisada como um conflito pessoal do indivíduo, que consciente do seu desfasamento cultural em relação à sociedade de origem, procura identificar-se com as suas raízes, da qual foi afastado pela assimilação colonial. Por conseguinte, nesta abordagem não se põe em causa a pertença do indivíduo à sociedade em questão.
Embora o recurso ao crioulo seja marginal, os autores afirmam-se como cidadãos africanos
Vejamos :
Agnelo Regalla (tema do assimilado)
Fui levado
a conhecer a nona sinfonia
Beethoven e Mozart
na música
Dante, Petrarca e Bocácio
na literatura
… Mas de ti mãe África ?
Que conheço eu de ti ?
a não ser o que me impingiram
o tribalismo, o subdesenvolvimento
e a fome e a miséria como complementos…/[vii]
Helder Proença (temas: reconstrução e esperança)
« …É assim que vamos tecendo as nossas manhãs
de ferro e terra batida
são as cores da nossa vida
onde a juventude se forja
- ardente e gloriosa no peito palpitante do futuro - … »[viii]
As primeiras publicações poéticas surgem em 1977 com a edição da primeira antologia « Mantenhas para quem luta », editada pelo Conselho Nacional da Cultura. No ano seguinte, é publicada a “Antologia dos novos poetas / primeiros momentos da construção”. Estas duas obras consagram uma poesia que instiga à reconstrução do jovem país.
Ainda em 1978, Francisco Conduto de Pina publicou o seu primeiro livro de poemas “Garandessa di nô tchon” e Pascoal D’Artagnan Aurigema editou ‘Djarama”.
Helder Proença publicou em 1982 « Não posso adiar a palavra » com duas obras poéticas.
Em 1990, surgiu uma nova colectânea poética, a “Antologia Poética da Guiné-Bissau” editada em Lisboa pela Editorial Inquérito, reunindo obras de quinze poetas, dos quais a maioria produz ainda uma poesia característica desta época.
Com a independência do país, surge uma vaga de jovens poetas, cujas obras impregnadas de um espírito revolucionário, manifestam um carácter social. Os autores mais representativos são: Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), José Carlos Schwartz, Helder Proença, Francisco Conduto de Pina, Félix Sigá.
O colonialismo, a escravatura e a repressão são denunciados por esses autores que, no pós independência imediato apelam para a construção da Nação e invocam a liberdade e a esperança num futuro melhor. O tema da identidade é abordado através de diferentes situações: a humilhação do colonizado, a alienação ou assimilação e a necessidade de afirmação da identidade nacional.
Note-se porém que a questão de identidade não é apresentada como um factor de oposição entre o indivíduo e a sociedade na qual este evolui. Ela é analisada como um conflito pessoal do indivíduo, que consciente do seu desfasamento cultural em relação à sociedade de origem, procura identificar-se com as suas raízes, da qual foi afastado pela assimilação colonial. Por conseguinte, nesta abordagem não se põe em causa a pertença do indivíduo à sociedade em questão.
Embora o recurso ao crioulo seja marginal, os autores afirmam-se como cidadãos africanos
Vejamos :
Agnelo Regalla (tema do assimilado)
Fui levado
a conhecer a nona sinfonia
Beethoven e Mozart
na música
Dante, Petrarca e Bocácio
na literatura
… Mas de ti mãe África ?
Que conheço eu de ti ?
a não ser o que me impingiram
o tribalismo, o subdesenvolvimento
e a fome e a miséria como complementos…/[vii]
Helder Proença (temas: reconstrução e esperança)
« …É assim que vamos tecendo as nossas manhãs
de ferro e terra batida
são as cores da nossa vida
onde a juventude se forja
- ardente e gloriosa no peito palpitante do futuro - … »[viii]
As primeiras publicações poéticas surgem em 1977 com a edição da primeira antologia « Mantenhas para quem luta », editada pelo Conselho Nacional da Cultura. No ano seguinte, é publicada a “Antologia dos novos poetas / primeiros momentos da construção”. Estas duas obras consagram uma poesia que instiga à reconstrução do jovem país.
Ainda em 1978, Francisco Conduto de Pina publicou o seu primeiro livro de poemas “Garandessa di nô tchon” e Pascoal D’Artagnan Aurigema editou ‘Djarama”.
Helder Proença publicou em 1982 « Não posso adiar a palavra » com duas obras poéticas.
Em 1990, surgiu uma nova colectânea poética, a “Antologia Poética da Guiné-Bissau” editada em Lisboa pela Editorial Inquérito, reunindo obras de quinze poetas, dos quais a maioria produz ainda uma poesia característica desta época.
Uma poesia mais intimista
O desencantamento dos sonhos do pós-independência imediato fez com que a euforia revolucionária desse lugar a uma poesia que se tornou mais pessoal, mais intimista, com a deslocaçao dos temas Povo-Nação para o Indivíduo. Outros temas passaram a inspirar a criação literária, tais como o amor. De entre os seus autores citemos: Helder Proença, Tony Tcheca, Félix Sigá, Carlos Vieira, Odete Semedo.
«Quisera
nesta vida
… afagar teus cabelos
sugar o doce dos teus olhos
transportar em arco-íris
o néctar da tua boca
e juntos caminharmos
ante a ânsia e o sonho … »[ix]
« A vida
nasce de gotas de Amor
- a morte
acontece no tempo
entre mim e a vida
paira um vácuo
- com sorriso
aguardo o destino[x].
Embora o português continue a ser a língua dominante na poesia guineense, o recurso ao crioulo tornou-se mais frequente, quer pela escrita em crioulo, quer pela utilização de termos e expressões crioulas em textos em português. Empregando o crioulo, os autores põem em evidencia a riqueza metafórica dessa língua, profundamente enraizada na cultura popular.
Odete Semedo, que utiliza tanto o português como o crioulo, reivindica pertencer a duas culturas:
« Em que língua escrever
as declarações de amor ?
em que língua contar as histórias que ouvi contar ?
… Falarei em crioulo ?
Falarei em crioulo !
mas que sinais deixar aos netos deste século ?
ou terei que falar nesta língua lusa
e eu sem arte nem musa
mas assim terei palavras para deixar.. . »[xi]
Várias são as publicações que dão conta destas inovações na literatura bissau – guineense: « O Eco do Pranto » de Tony Tcheca em 1992, uma antologia temática sobre a criança, editada pela Editorial Inquérito em Lisboa ; « O silêncio das gaivotas » em 1996, o segundo livro de poemas de Francisco Conduto de Pina ; « Kebur – Barkafon di poesia na kriol », uma recolha de poemas em crioulo, editada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) em 1996 ; « Entre o Ser e o Amar », uma recolha bilingue português-crioulo de poemas de Odete Semedo, publicada também pelo INEP em 1996 « Noites de insónia em terra adormecida », um outro livro de poemas de Tony Tcheka publicado também em 1996 e « Um Cabaz de Amores - Une corbeille d’amours”, recolha bilingue português-francês de poemas de Carlos Edmilson Vieira, publiacada em 1998 pelas Editions Nouvelles du Sud em Paris.
As primeiras bandas desenhadas de Fernando Júlio, exclusivamente em crioulo, apareceram na década de oitenta. Trata-se essencialmente de sátiras sociais que tiveram um grande sucesso. A música, onde a poesia crioula tem quase a exclusividade, foi também marcada pela exultação da reconstrução nacional.
Autoria de Filomena Embaló
O desencantamento dos sonhos do pós-independência imediato fez com que a euforia revolucionária desse lugar a uma poesia que se tornou mais pessoal, mais intimista, com a deslocaçao dos temas Povo-Nação para o Indivíduo. Outros temas passaram a inspirar a criação literária, tais como o amor. De entre os seus autores citemos: Helder Proença, Tony Tcheca, Félix Sigá, Carlos Vieira, Odete Semedo.
«Quisera
nesta vida
… afagar teus cabelos
sugar o doce dos teus olhos
transportar em arco-íris
o néctar da tua boca
e juntos caminharmos
ante a ânsia e o sonho … »[ix]
« A vida
nasce de gotas de Amor
- a morte
acontece no tempo
entre mim e a vida
paira um vácuo
- com sorriso
aguardo o destino[x].
Embora o português continue a ser a língua dominante na poesia guineense, o recurso ao crioulo tornou-se mais frequente, quer pela escrita em crioulo, quer pela utilização de termos e expressões crioulas em textos em português. Empregando o crioulo, os autores põem em evidencia a riqueza metafórica dessa língua, profundamente enraizada na cultura popular.
Odete Semedo, que utiliza tanto o português como o crioulo, reivindica pertencer a duas culturas:
« Em que língua escrever
as declarações de amor ?
em que língua contar as histórias que ouvi contar ?
… Falarei em crioulo ?
Falarei em crioulo !
mas que sinais deixar aos netos deste século ?
ou terei que falar nesta língua lusa
e eu sem arte nem musa
mas assim terei palavras para deixar.. . »[xi]
Várias são as publicações que dão conta destas inovações na literatura bissau – guineense: « O Eco do Pranto » de Tony Tcheca em 1992, uma antologia temática sobre a criança, editada pela Editorial Inquérito em Lisboa ; « O silêncio das gaivotas » em 1996, o segundo livro de poemas de Francisco Conduto de Pina ; « Kebur – Barkafon di poesia na kriol », uma recolha de poemas em crioulo, editada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) em 1996 ; « Entre o Ser e o Amar », uma recolha bilingue português-crioulo de poemas de Odete Semedo, publicada também pelo INEP em 1996 « Noites de insónia em terra adormecida », um outro livro de poemas de Tony Tcheka publicado também em 1996 e « Um Cabaz de Amores - Une corbeille d’amours”, recolha bilingue português-francês de poemas de Carlos Edmilson Vieira, publiacada em 1998 pelas Editions Nouvelles du Sud em Paris.
As primeiras bandas desenhadas de Fernando Júlio, exclusivamente em crioulo, apareceram na década de oitenta. Trata-se essencialmente de sátiras sociais que tiveram um grande sucesso. A música, onde a poesia crioula tem quase a exclusividade, foi também marcada pela exultação da reconstrução nacional.
Autoria de Filomena Embaló
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