O ritmo na poesia tradicional portuguesa é marcado, geralmente, por versos de cinco e de sete sílabas métricas. Na poesia tradicional japonesa também assim é. As origens da poesia japonesa perdem-se na noite dos tempos, mas desde épocas remotas que os ritmos preferidos pelos poetas japoneses se concretizam em versos de cinco e de sete sílabas, como se pode ver em antologias organizadas a partir do século VIII.
Na Arte Breve da Lingoa Japoa, obra do Padre Jesuíta João Rodrigues publicada em Macau, em 1620, faz-se referência ao estilo poético japonês que se caracteriza pelo uso de versos " de sinco & sete syllabas, que nesta lingoa fazen muito boa cadencia". Esta Arte Breve da Lingoa Japoa é a primeira Gramática alguma vez elaborada sobre a língua japonesa. Foi feita por um português, João Rodrigues, apelidado Tçuzu (o Intérprete), missionário jesuíta que viveu largos anos no Japão e se debruçou sobre o funcionamento daquela língua oriental. Mas não é sobre esta obra que quero falar agora. Apenas me lembrei dela porque penso que é a primeira obra escrita em português em que há referência à poesia japonesa.
Um grande poeta do Japão, tão famoso naquele país como Camões o é em Portugal. Matsuo Bashô nasceu em 1644, na pequena cidade de Ueno, na província de Iga e faleceu em Osaka, em 1694. O seu nome de nascimento era Matsuo Kinsaku, mas, muitos anos depois, quando já era um conhecido poeta, mestre na sua arte, adoptou o pseudónimo de Bashô, agradecido aos seus discípulos que tinham plantado uma bananeira de jardim (bashô) junto da sua modesta habitação. A vida de Bashô foi uma permanente caminhada em busca do conhecimento e do contacto com a Natureza, procurando atingir a perfeição na expressão poética, tendo conferido grande beleza e dignidade literária ao género poético designado haiku ou haikai. Este género poético continua na linha da poesia tradicional japonesa. É um dos mais notáveis géneros poéticos da literatura universal e, possivelmente, aquele que apresenta a forma de expressão mais breve e concisa. Cada poema é constituído por dezassete sílabas métricas distribuídas por versos ou segmentos de 5-7-5 sílabas. Teve origem numa forma poética mais antiga, o tanka, que é constituído por trinta e uma sílabas distribuídas por cinco versos de 5-7-5-7-7 sílabas métricas.
No haiku, encontramos a simplicidade, a concisão, o sentimento da Natureza. Pressupõe, no poeta, uma atitude de contemplação e de despojamento e o sentido da permanência e da mudança. Para se alcançar a beleza subtil desta forma de poesia é necessário aprender a respirar em uníssono com a Natureza. O haiku nasce de um acontecimento vivenciado, surge a partir de um momento concreto que se viveu e que impressionou os nossos sentidos e o nosso espírito. Em poucas palavras, o poeta tenta transmitir, ou melhor, sugerir a essência do acontecimento breve que o impressionou.
Muitos dos haiku de Bashô estão incluídos nos diários que escreveu durante as várias viagens ou peregrinações que realizou através do Japão. Assim, pode considerar-se Bashô não só como um poeta mas também como um prosador de apurado sentido estético, criador de um estilo que será modelo para muitos escritores em sucessivas gerações. A sua obra mais conhecida, Oku no Hosomichi, (traduzida para português com o título O Caminho Estreito para o Longínquo Norte), conta-nos, em forma de diário, intercalando poemas em pequenos textos em prosa, a sua longa viagem por diversas regiões do Japão.
Muito haveria a dizer sobre este poeta considerado um dos grandes mestres da poesia japonesa, mas o melhor é dar a ler alguns dos seus haiku (escolhemos a tradução de Luísa Freire, em Imagens Orientais).
Crisântemo branco -
nem um só grão de poeira
a vista descobre
Outono já frio;
eu penso no meu vizinho -
como viverá?
No meio da planície
uma cotovia canta,
liberta de tudo.
A primeira neve:
tal basta para dobrar
as folhas dos lírios.
Cortesia de Expresso
Na Arte Breve da Lingoa Japoa, obra do Padre Jesuíta João Rodrigues publicada em Macau, em 1620, faz-se referência ao estilo poético japonês que se caracteriza pelo uso de versos " de sinco & sete syllabas, que nesta lingoa fazen muito boa cadencia". Esta Arte Breve da Lingoa Japoa é a primeira Gramática alguma vez elaborada sobre a língua japonesa. Foi feita por um português, João Rodrigues, apelidado Tçuzu (o Intérprete), missionário jesuíta que viveu largos anos no Japão e se debruçou sobre o funcionamento daquela língua oriental. Mas não é sobre esta obra que quero falar agora. Apenas me lembrei dela porque penso que é a primeira obra escrita em português em que há referência à poesia japonesa.
Um grande poeta do Japão, tão famoso naquele país como Camões o é em Portugal. Matsuo Bashô nasceu em 1644, na pequena cidade de Ueno, na província de Iga e faleceu em Osaka, em 1694. O seu nome de nascimento era Matsuo Kinsaku, mas, muitos anos depois, quando já era um conhecido poeta, mestre na sua arte, adoptou o pseudónimo de Bashô, agradecido aos seus discípulos que tinham plantado uma bananeira de jardim (bashô) junto da sua modesta habitação. A vida de Bashô foi uma permanente caminhada em busca do conhecimento e do contacto com a Natureza, procurando atingir a perfeição na expressão poética, tendo conferido grande beleza e dignidade literária ao género poético designado haiku ou haikai. Este género poético continua na linha da poesia tradicional japonesa. É um dos mais notáveis géneros poéticos da literatura universal e, possivelmente, aquele que apresenta a forma de expressão mais breve e concisa. Cada poema é constituído por dezassete sílabas métricas distribuídas por versos ou segmentos de 5-7-5 sílabas. Teve origem numa forma poética mais antiga, o tanka, que é constituído por trinta e uma sílabas distribuídas por cinco versos de 5-7-5-7-7 sílabas métricas.
No haiku, encontramos a simplicidade, a concisão, o sentimento da Natureza. Pressupõe, no poeta, uma atitude de contemplação e de despojamento e o sentido da permanência e da mudança. Para se alcançar a beleza subtil desta forma de poesia é necessário aprender a respirar em uníssono com a Natureza. O haiku nasce de um acontecimento vivenciado, surge a partir de um momento concreto que se viveu e que impressionou os nossos sentidos e o nosso espírito. Em poucas palavras, o poeta tenta transmitir, ou melhor, sugerir a essência do acontecimento breve que o impressionou.
Muitos dos haiku de Bashô estão incluídos nos diários que escreveu durante as várias viagens ou peregrinações que realizou através do Japão. Assim, pode considerar-se Bashô não só como um poeta mas também como um prosador de apurado sentido estético, criador de um estilo que será modelo para muitos escritores em sucessivas gerações. A sua obra mais conhecida, Oku no Hosomichi, (traduzida para português com o título O Caminho Estreito para o Longínquo Norte), conta-nos, em forma de diário, intercalando poemas em pequenos textos em prosa, a sua longa viagem por diversas regiões do Japão.
Muito haveria a dizer sobre este poeta considerado um dos grandes mestres da poesia japonesa, mas o melhor é dar a ler alguns dos seus haiku (escolhemos a tradução de Luísa Freire, em Imagens Orientais).
Crisântemo branco -
nem um só grão de poeira
a vista descobre
Outono já frio;
eu penso no meu vizinho -
como viverá?
No meio da planície
uma cotovia canta,
liberta de tudo.
A primeira neve:
tal basta para dobrar
as folhas dos lírios.
Cortesia de Expresso
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