O mercado livreiro português está desinteressante e sem vivacidade. Toda a gente com quem falo, bons e maus leitores, todos eles já repararam que a literatura morre pelos cantos, as estantes enchem-se como pastilhas elásticas literárias… as poucas livrarias que resistem herculeamente nalgumas terras vivem a crise provocada pela falta criteriosa do bom gosto literário, poucos vão às livrarias hoje em dia, um espaço em vias de extinção, que apenas consegue sobreviver nas grandes superfícies comerciais, fazendo-se seguir por “rankings” forjados, os denominados “menus literários”. As livrarias verdadeiramente boas fecham, e as que ainda não o fizeram, rebentam pelas costuras com “livros chiclete”, como por vezes lhes chamo, por nos fazerem engolir a saliva, fazendo crer que mastigamos comida de verdade.
Não há espaço, meus amigos escritores, a verdade é que não há espaço para todos nós. As livrarias estão a morrer e nós, escritores, somos uma raça em vias da extinção. É uma realidade, o computador Orwelliano já está aí.
Dizia-vos, não sobre o fim da literatura, como no título infeliz desta rubrica, pois a literatura existirá sempre (apesar de o ser em formas pouco convencionais ou interessantes, que delineiam aplasticidade de estar no objecto literário – no seu termo mais pejorativo, é claro), dizia-vos então que as livrarias estão a morrer… essas sim…
Mas comecemos pelos mais pequenos: sabe, quem trabalha com crianças, como as modas literárias estão escandalosamente estúpidas, por se ligarem a objectos vendíveis que prolongam a leitura numa mera passerellede modas. “O Clube das Chaves”, os “Cinco”, até mesmo o “Harry Potter”, já passaram de moda, poucos são os adolescentes que – sob o plano da leitura implementado nas escolas – ainda lêem estes livros. Apelidados agora de “secas”, os livros de aventura de outrora foram definitivamente trocados por um nauseante e estúpido grupo de “chupa-cabras”, vampiros que esvoaçam as leituras dos mais pequenos, pousam nos telhados não entrando na casa da interpretação e da imaginação, e ensinam a ler como se chupassem um naco de carne preso entre os dentes.
Um livro para adolescência que não tenha um filme, não presta. Cada vez mais para haver imaginação é necessário uma espécie de complemento alimentício, como em certos iogurtes, uma espécie de 2 em 1…. primeiro surge o livro, de seguida o filme do livro, depois a música do filme do livro… o livro já não é um fim em si, mas o início de uma corrente que justifica apenas estarmos presos às modas. As livrarias entendem isso e borram as montras com as mesmas capas que justificam a ida ao cinema. Mas o que me dá maior regozijo é precisamente o de constatar que a moda passa mais depressa naqueles livros que justificam sempre o filme. Cada vez mais constato que o filme tira a áurea imortal ao livro e torna-o mais fútil do que nunca… e mais não digo.
Por Carlos Vaz
Cortesia de Textualino
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