O digital está a ganhar terreno no mundo dos livros. No Parque Eduardo VII, tanto no pavilhão do grupo Babel como na Praça LeYa vai ser possível consultar e folhear livros electrónicos.
Mal se chega à Feira do Livro de Lisboa, que hoje abriu às 12h30 no Parque Eduardo VII, dá-se logo conta que ali aterrou um objecto não identificado. É o pavilhão do grupo Babel, concebido pela arquitecta Soledade Paiva de Sousa, que poderia ser um paralelepípedo negro gigante que sofreu uma fractura e é rasgado horizontalmente, de um lado ao outro, por uma faixa de luz.
É dentro deste pavilhão - completamente diferente de todos os outros que o rodeiam, com 56 metros de comprimento, por três metros e meio de largura - que os leitores vão ter acesso a livros digitais. Logo no espaço infantil, há uma zona multimédia, um quiosque com jogos didácticos. Mais à frente, os leitores são surpreendidos com uma estrutura que parece um livro gigante, aberto, mas não é de papel. No dia em que visitámos a feira ainda não estava tudo montado, mas nessa estrutura será projectado um livro electrónico que pode ser folheado. É uma maneira diferente de se ler a Mensagem, de Fernando Pessoa, da Babel, aquela que reproduz a primeira edição da obra que está na Biblioteca Nacional.
Depois de se passar pelas zonas exclusivas dedicadas a autores - Jorge de Sena, Agustina Bessa-Luís, Fernando Pessoa e Padre António Vieira - no pavilhão; pelos ecrãs com trailers de livros; chega-se ao "e-quadrado". É um quiosque multimédia, com dois ecrãs, que o grupo editorial de Paulo Teixeira Pinto está a desenvolver para colocar em 20 lojas de norte a sul do país. Num dos seus ecrãs tácteis é possível ler ebooks. No futuro, ainda não acontecerá nesta feira, estes livros poderão ser adquiridos a partir deste "e-quadrado", mesmo nas livrarias.
Na parte de cima do Parque Eduardo VII, do lado oposto ao pavilhão do grupo Babel, também haverá um espaço onde os visitantes da feira podem conhecer e ler ebooks. Uma parte de um dos pavilhões da Praça LeYa, mais concretamente o pavilhão do "Fantástico", foi transformada para aí se criar o espaço dinamizado pela LeYa Mediabooks, a livraria online deste grupo editorial. Estará equipado com dois PC portáteis, nos quais os visitantes da feira poderão, por um lado, conhecer e ler ebooks disponíveis no catálogo da Mediabooks e, por outro, consultar o catálogo de livros; o espaço estará também equipado com tablets, nos quais os visitantes poderão experimentar a leitura de livros digitais. Por sua vez, o grupo Porto Editora não terá ebooks na feira, mas está a preparar, para o mês de Maio, um evento dedicado ao ebook em conjunto com a Wook, a livraria online do grupo.
Mais tecnológicas
As coisas parecem estar a mudar. Pela primeira vez na história da Feira do Livro de Lisboa o livro digital vai conviver lado a lado com o livro impresso. Nada que não se passe já em outras feiras por esse mundo fora, embora a maior parte delas tenha características diferentes da Feira do Livro de Lisboa, pois, além de serem abertas ao público (durante alguns dias), estão vocacionadas para profissionais, para o negócio de compra e venda de direitos. "É inevitável que as feiras do livro passem a ser cada vez mais tecnológicas. É uma parte importante do mercado editorial que está a sofrer uma mudança e isso tem que se reflectir também no espaço onde o livro está presente, neste caso na Feira do Livro de Lisboa, o espaço principal de contacto do mundo da edição portuguesa com o seu público final", explica Nuno Seabra Lopes, consultor editorial da Booktailors.
Tal como já acontece nas feiras internacionais, em Portugal a importância do digital vai ter que começar a ser evidente. "Apesar de a nossa feira ter características diferentes, acredito que dentro de um ano, dois, poderá haver vendedores de ereaders e que também nos seja possibilitada a compra de ebooks", acrescenta Seabra Lopes.
Este ano, nos primeiros quatro meses, os dados relativos à venda de livros nos EUA e no Reino Unido, anunciados pela Nielsen Bookscan, mostram que as vendas de ebooks estão a conduzir a uma quebra na venda de livros impressos. A editora Penguin anunciou que dez por cento do seu volume de negócios do ano passado já se deveu ao livro electrónico. "Sendo eles um grupo editorial tão forte e sem nenhum interesse directo em nenhuma tecnologia, não vendem Kindle ou Nook ou outro ereader. Sendo uma editora isenta, acho que é muito expressivo o negócio dos ebooks entrar nos dois dígitos. Começa a ser uma área com uma importância muito forte", diz Eduardo Boavida, editor da Bertrand. E isso notou-se na Feira do Livro de Londres, onde esteve José Prata, editor da Lua de Papel.
Nas livrarias londrinas há também sinais de crise. A edição em capa dura está em extinção em Inglaterra, as novidades estão a ser publicadas em capa mole contra o que era tradicional no mercado anglo-saxónico. "Há uma caminhada para tornar o livro mais barato. Vê-se uma certa decadência no acabamento do livro por causa dos custos. A tentativa é tornar o livro impresso mais barato para competir com os ebooks e com os livros físicos que estão à venda na Internet com grandes descontos", explica José Prata.
De feira em feira internacional costuma andar o jornalista Ricardo Costa, da PublishNews, um portal brasileiro que divulga uma newsletter diária sobre o mercado editorial. "A tendência é que as feiras estejam cada vez mais a voltar-se para o digital. No Brasil os editores perceberam que não vai demorar, já está aí. Os livros em formato digital estão a ocupar um espaço cada vez maior e acredito que daqui a uns anos as feiras do livro comecem a diminuir o seu espaço físico", explica ao telefone de São Paulo.
Cortesia de O Público
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