É mais fácil aceder à substância de um livro através da audição do que da leitura. Esta ideia pode resumir o projecto O Livro. Teresa Henriques, Joana Mendonça e Diogo Henriques querem assim combater a exclusão a que a literatura está sujeita na sociedade.
"As pessoas têm cada vez menos tempo para ler, mas não queremos atingir só esse público, pretendemos também chegar aos idosos, às crianças e aos... preguiçosos!", aponta a equipa que concorreu e faz parte dos dez candidatos da iniciativa Faz - Ideias de Origem Portuguesa, da Fundação Gulbenkian, em conjunto com a Fundação Talento.
Cada equipa de concorrentes deve ser constituída por portugueses na diáspora e residentes no país. A ideia de O Livro vem do outro lado do Atlântico, dos EUA, pela mão de Teresa Henriques, de 32 anos, escultora. "A oportunidade de ser escultora nos EUA é muito maior do que alguma vez será em Portugal", justifica.
Quanto ao projecto, este surgiu de uma vivência ainda em território nacional: "Vi os meus avós na última fase da vida deles, quando começaram a perder as capacidades físicas, a ficaram reféns da televisão".
A escultora a viver em Nova Iorque há três anos recorda que os avós eram duas pessoas que gostavam imenso da cultura portuguesa, "literatura, música, teatro", e perderam esses interesses. "Então, lembrei-me de fazer uma biblioteca falada, através da rádio".
Com a ajuda de Joana Mendonça e de Duarte Henriques, decidiu tornar o projecto mais abrangente. "Queremos criar um programa em que os idosos vão contar histórias às crianças", por exemplo. Mas não só. "Seria uma mais-valia para os doentes que estão nos hospitais ou para os cegos", embora salvaguardem a importância do braille, ou ainda para as pessoas analfabetas, que teriam assim uma "abismal melhoria na sua qualidade de vida".
A equipa acredita que o projecto vai valorizar a cultura de um "país que é conhecido mundialmente pelos seus escritores". Tudo isso através da rádio que "chega a todos, mesmo as famílias portuguesas mais pobres têm uma aparelhagem pequena". Teresa lembra o hábito que muitas pessoas têm de "rezar o terço" acompanhando a rádio. "Podia acontecer a mesma coisa com a nossa biblioteca falada!"
O objectivo é criar um programa de rádio, onde os livros podem ser lidos, capítulo a capítulo, a uma hora específica, como as antigas radionovelas. Autores como Eça de Queirós, Saramago ou Fernando Pessoa, entre outros, podem ser divulgadas. E é aqui que reside uma das principais dificuldades do grupo: convencer as rádios nacionais a introduzirem este tipo de emissão na programação diária ou semanal. É um programa que não se adequa a qualquer rádio. "Uma rádio juvenil nunca irá aceitar a nossa proposta", a aposta direcciona-se mais para uma rádio com um público-alvo "mais maduro, que saiba dar valor a um bom livro", avalia Teresa.
Para este programa funcionar, a família Henriques quer contar com o apoio das universidades. Estudantes formados em áreas de dicção e línguas podem "dar voz" à literatura portuguesa. Estudantes de multimédia e audiovisuais poderiam ocupar-se da edição do programa radiofónico.
Outro ponto do projecto, explica Joana Mendonça, de 31 anos, economista que trabalha na área da inclusão social, é o livre acesso desta biblioteca na Internet. "Existirá uma plataforma online onde os livros estarão disponíveis, as pessoas fazem download e vão ouvindo". Aqui entra a experiência de Diogo Henriques, de 27 anos, engenheiro informático. "Queremos uma coisa simples, que permita o acesso a qualquer pessoa, jovem ou menos jovem, português ou estrangeiro".
E deste projecto pode nascer outro, o do aluguer dos "livros em áudio", em cafés, nas praias, jardins ou praças públicas. Deste modo, nem os turistas ficam de fora. Para eles, estão pensadas gravações em inglês e francês.
Cortesia de O Público
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