Se no início era o verbo, no que diz respeito à poesia, nos primórdios tudo era oral. Passam séculos, e o poema, de certa forma, acabou ficando por muito tempo trancafiado dentro de páginas de livros.
Mas a poesia, assim como o ser humano, segue, pede passagem.
Ricardo Corona é um poeta, mas não tem a postura do que muitos supõem que seja um sujeito que vive para a poesia.
Corona nasceu em Pato Branco, já morou em São Paulo, e vive em Curitiba desde 1989. São mais de duas décadas “sendo” curitibano e poeta. A sua trajetória acaba de ser reconhecida por meio de uma bolsa, de R$ 56 mil, que ele recebeu da Petrobras. Com o incentivo, vai produzir o livro Curare, que trará um único, longo e fluente poema.
O poeta atravessa uma temporada de serenidade e alegria. No apartamento em que vive com a sua esposa, Eliana Borges e com o filho Cauê, ele abre uma garrafa de vinho tinto, e propõe um brinde.
A editora Cosmorama, de Portugal, acaba de publicar Amphibia, obra que reúne os livros Cinemaginário (1999) e Corpo Sutil (2005). Daqui a 40 dias, o poeta e a sua esposa atravessam o Oceano Atalântico para divulgar Amphibia em território lusitano.
Mas Corona não parece muito ansioso pela temporada europeia. Ele gosta de viver o agora, o cotidiano, um dia de cada vez. Se um vizinho liga o aparelho de som com o volume no máximo, não será surpresa Corona pedir: “Ei, aumenta que isso aí é rock-and-roll.”
O poeta pode ser tudo, menos aquela caricatura que sugere que quem faz poesia está trancado dentro de um gabinete. Ele quer as janelas e as portas abertas. No livro-disco Sonorizador, de 2007, em uma das faixas, Corona já gritou: “livre-se do silêncio do livro.”
Sonorizador traduz, e muito, como esse artista entende e faz poesia: ele declama poemas, alguns com palavras, mas também enuncia sons guturais, em busca de melodias e possibilidades sonoras inusitadas. Afinal, como dizem alguns, as palavras, às vezes, podem atrapalhar. Outras vozes confirmam: o tom (de voz) já pode ser o recado.
Corona não quer repetir fórmulas, nem seguir caminhos já desbravados. Ousa o mergulho no escuro, seja para onde for. “Um livro feito de água/ é perfeito/ porque não se pode/ guardar”, escreveu, no poema “No Lugar Que Não Se Respira”.
O nome e o sobrenome Ricardo Corona, além de textos, livros e vocalizações, também estão associados a duas das mais instigantes revistas que circularam em tempos recentes. De 1998 a 2000, ele editou a Medusa. A Oroboro existiu de 2004 a 2006.
Corona não lamenta o final das publicações. Ao contrário, pega o cálice de vinho e brinda. Ele analisa que Medusa e Oroboro fizeram sentido em seus contextos, radiografando o que havia de mais original no período: ambas publicavam textos inventivos inéditos. O poeta não gostaria de dirigir veículos culturais para meramente demarcar território e ostentar alguma forma de poder.
Corona sai pouco do apartamento. Acompanha a programação dos cinemas e confere exposições. Costuma circular pelo ateliê de sua esposa, a poucos passos de onde eles vivem.
Juntos, Corona e Eliana tocam a editora Medusa, que já publicou 25 livros. Eles já dividiram a autoria de obras, como Tortografia, em que poesia dialoga com artes plásticas, entre outras fusões.
Depois de cinco horas de conversa, talvez tenha faltado perguntar: qual a função da poesia? Na última página de Amphibia, um verso sugere a resposta: “a posição da poesia é oposição.”
Cortesia de A Gazeta do Povo
Mas a poesia, assim como o ser humano, segue, pede passagem.
Ricardo Corona é um poeta, mas não tem a postura do que muitos supõem que seja um sujeito que vive para a poesia.
Corona nasceu em Pato Branco, já morou em São Paulo, e vive em Curitiba desde 1989. São mais de duas décadas “sendo” curitibano e poeta. A sua trajetória acaba de ser reconhecida por meio de uma bolsa, de R$ 56 mil, que ele recebeu da Petrobras. Com o incentivo, vai produzir o livro Curare, que trará um único, longo e fluente poema.
O poeta atravessa uma temporada de serenidade e alegria. No apartamento em que vive com a sua esposa, Eliana Borges e com o filho Cauê, ele abre uma garrafa de vinho tinto, e propõe um brinde.
A editora Cosmorama, de Portugal, acaba de publicar Amphibia, obra que reúne os livros Cinemaginário (1999) e Corpo Sutil (2005). Daqui a 40 dias, o poeta e a sua esposa atravessam o Oceano Atalântico para divulgar Amphibia em território lusitano.
Mas Corona não parece muito ansioso pela temporada europeia. Ele gosta de viver o agora, o cotidiano, um dia de cada vez. Se um vizinho liga o aparelho de som com o volume no máximo, não será surpresa Corona pedir: “Ei, aumenta que isso aí é rock-and-roll.”
O poeta pode ser tudo, menos aquela caricatura que sugere que quem faz poesia está trancado dentro de um gabinete. Ele quer as janelas e as portas abertas. No livro-disco Sonorizador, de 2007, em uma das faixas, Corona já gritou: “livre-se do silêncio do livro.”
Sonorizador traduz, e muito, como esse artista entende e faz poesia: ele declama poemas, alguns com palavras, mas também enuncia sons guturais, em busca de melodias e possibilidades sonoras inusitadas. Afinal, como dizem alguns, as palavras, às vezes, podem atrapalhar. Outras vozes confirmam: o tom (de voz) já pode ser o recado.
Corona não quer repetir fórmulas, nem seguir caminhos já desbravados. Ousa o mergulho no escuro, seja para onde for. “Um livro feito de água/ é perfeito/ porque não se pode/ guardar”, escreveu, no poema “No Lugar Que Não Se Respira”.
O nome e o sobrenome Ricardo Corona, além de textos, livros e vocalizações, também estão associados a duas das mais instigantes revistas que circularam em tempos recentes. De 1998 a 2000, ele editou a Medusa. A Oroboro existiu de 2004 a 2006.
Corona não lamenta o final das publicações. Ao contrário, pega o cálice de vinho e brinda. Ele analisa que Medusa e Oroboro fizeram sentido em seus contextos, radiografando o que havia de mais original no período: ambas publicavam textos inventivos inéditos. O poeta não gostaria de dirigir veículos culturais para meramente demarcar território e ostentar alguma forma de poder.
Corona sai pouco do apartamento. Acompanha a programação dos cinemas e confere exposições. Costuma circular pelo ateliê de sua esposa, a poucos passos de onde eles vivem.
Juntos, Corona e Eliana tocam a editora Medusa, que já publicou 25 livros. Eles já dividiram a autoria de obras, como Tortografia, em que poesia dialoga com artes plásticas, entre outras fusões.
Depois de cinco horas de conversa, talvez tenha faltado perguntar: qual a função da poesia? Na última página de Amphibia, um verso sugere a resposta: “a posição da poesia é oposição.”
Cortesia de A Gazeta do Povo
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