Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nascido em Lisboa a 28 de Março de 1810, liberal, seguidor do Romantismo e agricultor de paixão, foi homem do saber, das artes, da escrita, da história, do jornalismo, da poesia e da política. Figura ímpar do século XIX, invejado por uns e admirado por muitos outros, conseguiu uma vida plena de actividades, defendendo os seus ideais com convicção e rejeitando o Absolutismo através da luta armada, o que conduziu ao seu exílio em França, onde escreveu os seus melhores poemas. Mesmo assim, afrontou o clero, com o rigor da história, sobre a batalha de Ourique, defendendo sempre, com verdade científica, os seus escritos. Pela sua obra foi nomeado sócio efectivo da Academia das Ciências.
Apesar de ter sido considerado, por muitos, como o maior historiador português do século XIX e de ser conhecedor dos idiomas inglês, italiano, alemão, francês e latim e de saber lógica, retórica e matemática, como homem simples que era, recusou honrarias e condecorações, retirando-se para a sua quinta de Vale de Lobos, na Azoia de Santarém, ao sentir o apelo da terra. Aí se dedicou à agricultura e assumiu uma vida simples, contrária ao reboliço dos grandes centros, como ele próprio escreveu “ancorado no porto tranquilo e feliz do silêncio e da tranquilidade”, abdicando das lutas inglórias às quais se entregou, sempre, com fulgor.
Nesta última fase da sua vida, inspirado pela força da natureza, dedicou-se à agricultura criando uma granja-modelo, com uma produção diversificada, nomeadamente de cereais, vinho e azeite. Conforme se lê no livro de Jorge Custódio intitulado O Lagar e o “Azeite Herculano”, “não há boas colheitas sem estrumes, não há estrumes sem gado e não há gado sem pastos”. Assentando toda a estrutura da propriedade agrícola nesta dedução lógica, desenvolveu um modelo de exploração que foi um marco de referência no país e no estrangeiro. Experimentou várias práticas de cultura agrícola e introduziu a beterraba como penso para o gado. Herculano foi pois caracterizado como um bom gestor agrícola e um homem com sensibilidade para o cultivo das terras e para a comercialização dos seus produtos.
Mas a área de maior desenvolvimento e a sua grande paixão foi a produção de azeite. Neste domínio explorou dois lagares, o Lagar de Azeite da Quinta de Calhariz (como rendeiro) e o lagar de Vale de Lobos na sua propriedade. As técnicas de exploração eram já muito avançadas para a época e um exemplo a ser seguido. Surge assim um azeite de elevada qualidade e reconhecido internacionalmente, o “Azeite Herculano”, que foi um marco histórico nos azeites portugueses. Todo o processo relacionado com a produção era preparado com o maior cuidado e conhecimento tecnológico no cultivo da oliveira, na apanha da azeitona, no transporte, no fabrico, no envasilhamento e engarrafamento e posteriormente na comercialização, nomeadamente na venda em casas da especialidade. O reconhecimento do seu mérito ultrapassou as fronteiras, tendo em 1876 recebido o diploma conferido pela Comissão Centenária dos Estados Unidos da América no certame de “Philadelphia Olive Oil”.
O seu último suspiro ocorreu a 13 de Setembro de 1877, perdendo o som da vida na sua última ligação à Terra, deixando de desfrutar a calmaria e a tranquilidade de Vale de Lobos, onde adquiriu a paixão pela agricultura e pela vida simples, mas sempre com o intuito de levar a cabo todas as suas tarefas na perfeição. Homem notável, de cultura europeia, ribatejano de coração, foi reconhecido internacionalmente como um dos maiores portugueses do século XIX. Teve as honras de ser sepultado em mausoléu próprio, na Capela Tumular do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa.
A comemoração do bicentenário do seu nascimento, para além de legítima, é um tributo ao homem que bem serviu o país, numa época de mudanças e de evolução histórica.
Cortesia de O Mirante
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