As poesias poderiam ter brotado nos jardins do Gramercy Park, rodeado por construções distintas e refinadas, dentre as quais a casa que abriga The National Arts Club. Os salões do clube oferecem uma revisita ao tempo, quadros e fotos antigas nas paredes, uma decoração predominantemente art nouveau, esculturas de animais, salões com grades, há ares do fantástico nos cômodos, alguns abertos ao público, várias passagens interditadas. Flores, grandes flores cobrem os papéis de parede. Passamos pela recepção, onde o atendente assistia ao Kentucky Derby na televisão e não demonstrava qualquer interesse no evento literário do dia. Na sua pequena sala, o atendente fazia questão de construir um universo aparte através de telas de segurança e televisivas, rádios e conversas mundanas. No salão do primeiro piso, cadeiras circundavam um palco improvisado. Vinho branco e tinto servido à vontade. Navios intergaláticos feitos de restos de molduras de quadro, com pequenas telas de cinema amador e personagens de plástico, a Bela e a Fera, voavam nas paredes negras da sala em espera. O público e os poetas chegam com certo atraso. A leitura começa e o mexicano Homero Aridjis abre a noite com a sua Salutación al Sol... sol de los mistérios... sol como una gema anemica... nos mira por dentro y afuera... Em seguida, o poeta mexicano lê um poema em homenagem ao pai morto, uma conversa espiritual: asi nos encontramos los vivos y los muertos, cada uno sigue su camino... E no desejo de ser um, si uno pudiera cavalgar intensamente... versos para Kafka. Em Ojos de otro miraje: ... un colibri volando como un pedazo de mediodia... mi vida es un relampago... as palavras do poeta gotejam no ar úmido, muitos na platéia cerram os olhos para não deixarem escapar o toque na alma. Homero Aridjis é um poeta abençoado que ainda nos lê o seu Un Poema de Amor e Auto-retrato a los 54 años, não tão recente.
Ariel Dorfman é chileno e americano, anuncia que lerá a maior parte dos seus poemas em inglês, dispensando a jovem intérprete de vestido preto e bolinhas brancas que acompanhou Aridjis. Pede que o público guarde os aplausos para o final, a interrupção atrapalha o ritmo da leitura. Tem domínio de palco, lê com intensidade teatral os poemas traduzidos por Edith Grossman, a grande tradutora de obras do espanhol para o inglês tal como a última versão de Dom Quixote de la Mancha lançada no ano passado. Em um dos poemas, Dorfman ressuscita William Blake que entabula um diálogo com a bela Laura Bush, versos que expressam a raiva do poeta com relação à invasão do Iraque. Cathy Park Hong traz um novo sabor ao evento com seus poemos ritmados, lidos em inglês com um sotaque totalmente asiático, quase entoando um novo idioma. Impressiona com termos como “the beige population”, num protesto contra as tendências anti-imigração no país e a absorção hipócrita de raças de outras cores.
Antes da vez de Marlene van Niekerk, vinda da África do Sul, Inga Kuznetsova nos revela as limitações do seu inglês. Os russos na platéia já haviam corrigido a pronúncia errada do sobrenome de Inga pelo presidente da Poetry Society. A jovem chega ao palco com uma blusa de flores e o longo cabelo castanho preso por uma flor ao lado. Recita os poemas sem necessitar leitura, não hesita. Começa com uma ode por um dia perdido, “if this life really has a meaning, the rain will wash it away...”. Ainda fresca a lembrança da salutação ao sol, pedimos que não chova tão logo, quem não gostaria de um pouco de sentido para a vida e as chuvas da primavera são particularmente cruéis, levam tudo consigo, relegam-nos às flores. “All things exist without tricks...”, explica-nos o intérprete de Inga. Será?
Kátia Gerlach
Cortesia de PNETLiteratura
Ariel Dorfman é chileno e americano, anuncia que lerá a maior parte dos seus poemas em inglês, dispensando a jovem intérprete de vestido preto e bolinhas brancas que acompanhou Aridjis. Pede que o público guarde os aplausos para o final, a interrupção atrapalha o ritmo da leitura. Tem domínio de palco, lê com intensidade teatral os poemas traduzidos por Edith Grossman, a grande tradutora de obras do espanhol para o inglês tal como a última versão de Dom Quixote de la Mancha lançada no ano passado. Em um dos poemas, Dorfman ressuscita William Blake que entabula um diálogo com a bela Laura Bush, versos que expressam a raiva do poeta com relação à invasão do Iraque. Cathy Park Hong traz um novo sabor ao evento com seus poemos ritmados, lidos em inglês com um sotaque totalmente asiático, quase entoando um novo idioma. Impressiona com termos como “the beige population”, num protesto contra as tendências anti-imigração no país e a absorção hipócrita de raças de outras cores.
Antes da vez de Marlene van Niekerk, vinda da África do Sul, Inga Kuznetsova nos revela as limitações do seu inglês. Os russos na platéia já haviam corrigido a pronúncia errada do sobrenome de Inga pelo presidente da Poetry Society. A jovem chega ao palco com uma blusa de flores e o longo cabelo castanho preso por uma flor ao lado. Recita os poemas sem necessitar leitura, não hesita. Começa com uma ode por um dia perdido, “if this life really has a meaning, the rain will wash it away...”. Ainda fresca a lembrança da salutação ao sol, pedimos que não chova tão logo, quem não gostaria de um pouco de sentido para a vida e as chuvas da primavera são particularmente cruéis, levam tudo consigo, relegam-nos às flores. “All things exist without tricks...”, explica-nos o intérprete de Inga. Será?
Kátia Gerlach
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