POEMAS
Entre o sempre e o nunca
Entre o sempre e o nunca
é que as coisas acontecem
um segundo sem fôlego
quando menos se espera
o mundo transforma-se
afundado em si próprio
sete corações abaixo
é que de repente se imagina
uma época em que as pedras
começam a sangrar.
Dá-me chuva
Dá-me chuva
como mãos vivas
ou passa-me
o instante
na ponta de um faca
eu fico aberta.
Água em chamas
…e ele parecia um deus ao sair do banho.
Um banho te darei como as servas de Circe o deram a Ulisses,
como essas filhas dos bosques e das fontes
e dos rios sagrados que desaguam no mar,
encho a banheira de água e sirvo-te vinho.
Misturo num jacto de água quente com outra que arrefece,
enquanto os espelhos se embaciam e o silêncio vem de mansinho;
um longo banho terás, o vinho iluminarão teu sangue,
descontrairá os músculos que eu banho com um jarro de água.
Tal como a quarta serva afastou a fadiga dos membros de Ulisses,
Continuarei a dar-te banho, para que o mundo seja do tamanho deste quarto,
onde os suaves vapores se adensam cada vez mais e as fragrâncias do teu corpo
se expandem no quarto à medida que o calor te inunda tanto por fora como por dentro.
Aproximo-me, lavo o teu pescoço e o teu peito,
acaricio o teu rosto, a tua nuca e os teus ombros,
reparo no prazer que avança à medida que depões as tuas armas,
vejo que deixas relaxar os teus ombros e mergulhas no banho.
Tem de haver água para haver vida,
e os homens precisam de banhos demorados...
ensaboo-te e enxaguo-te de novo, o teu corpo torna-se pesado,
não és só um homem mas todos os homens.
E quando te levantas do banho para emergir
és tão encantador como Telémaco
que foi banhado pela adorável donzela Policasta,
antes de ser ungido com óleo cintilante e coberto com túnica e manto.
De quem é o amor que brilha através do mundo como um rio que corre,
e porque flui tão puro como a alma
que vem em direcção a mim, tão deferente de tudo o que conheci
no labirinto do palácio onde vagueei sozinha durante tanto tempo.
Mil Vezes Nascido
(…)
71.
Se formos para o céu,
pergunta a criança,
o esqueleto também vai,
e todos os ossos que o cão comeu’
97.
Não procurem a caixa negra da poesia,
não tem respostas gravadas,
está cheia de perguntas e perguntas dos sonhos
ou de um silêncio onde é penoso entrar.
(…)
Tradução colectiva coordenada por Laureano Silveira
PEQUENA BIOGRAFIA
Pia Tafdrup nasceu em Copenhaga em 1952 e iniciou a sua carreira literária em 1980. Viveu em Elsinore de 1971 a 1978. Até agora publicou onze livros de poesia, duas peças de teatro, um livreto para dança, uma novela e um ensaio. Editou seis antologias de poesia contemporânea dinamarquesa. Em 1989 foi eleita para a Academia Literária da Dinamarca. Os seus poemas foram traduzidos para sueco, finlandês, islandês, português, espanhol, alemão, francês, italiano, macedónio, romeno, russo, eslovaco, turco, hebraico, árabe e outras línguas. Recebeu vários prémios literários.
Entre o sempre e o nunca
Entre o sempre e o nunca
é que as coisas acontecem
um segundo sem fôlego
quando menos se espera
o mundo transforma-se
afundado em si próprio
sete corações abaixo
é que de repente se imagina
uma época em que as pedras
começam a sangrar.
Dá-me chuva
Dá-me chuva
como mãos vivas
ou passa-me
o instante
na ponta de um faca
eu fico aberta.
Água em chamas
…e ele parecia um deus ao sair do banho.
Um banho te darei como as servas de Circe o deram a Ulisses,
como essas filhas dos bosques e das fontes
e dos rios sagrados que desaguam no mar,
encho a banheira de água e sirvo-te vinho.
Misturo num jacto de água quente com outra que arrefece,
enquanto os espelhos se embaciam e o silêncio vem de mansinho;
um longo banho terás, o vinho iluminarão teu sangue,
descontrairá os músculos que eu banho com um jarro de água.
Tal como a quarta serva afastou a fadiga dos membros de Ulisses,
Continuarei a dar-te banho, para que o mundo seja do tamanho deste quarto,
onde os suaves vapores se adensam cada vez mais e as fragrâncias do teu corpo
se expandem no quarto à medida que o calor te inunda tanto por fora como por dentro.
Aproximo-me, lavo o teu pescoço e o teu peito,
acaricio o teu rosto, a tua nuca e os teus ombros,
reparo no prazer que avança à medida que depões as tuas armas,
vejo que deixas relaxar os teus ombros e mergulhas no banho.
Tem de haver água para haver vida,
e os homens precisam de banhos demorados...
ensaboo-te e enxaguo-te de novo, o teu corpo torna-se pesado,
não és só um homem mas todos os homens.
E quando te levantas do banho para emergir
és tão encantador como Telémaco
que foi banhado pela adorável donzela Policasta,
antes de ser ungido com óleo cintilante e coberto com túnica e manto.
De quem é o amor que brilha através do mundo como um rio que corre,
e porque flui tão puro como a alma
que vem em direcção a mim, tão deferente de tudo o que conheci
no labirinto do palácio onde vagueei sozinha durante tanto tempo.
Mil Vezes Nascido
(…)
71.
Se formos para o céu,
pergunta a criança,
o esqueleto também vai,
e todos os ossos que o cão comeu’
97.
Não procurem a caixa negra da poesia,
não tem respostas gravadas,
está cheia de perguntas e perguntas dos sonhos
ou de um silêncio onde é penoso entrar.
(…)
Tradução colectiva coordenada por Laureano Silveira
PEQUENA BIOGRAFIA
Pia Tafdrup nasceu em Copenhaga em 1952 e iniciou a sua carreira literária em 1980. Viveu em Elsinore de 1971 a 1978. Até agora publicou onze livros de poesia, duas peças de teatro, um livreto para dança, uma novela e um ensaio. Editou seis antologias de poesia contemporânea dinamarquesa. Em 1989 foi eleita para a Academia Literária da Dinamarca. Os seus poemas foram traduzidos para sueco, finlandês, islandês, português, espanhol, alemão, francês, italiano, macedónio, romeno, russo, eslovaco, turco, hebraico, árabe e outras línguas. Recebeu vários prémios literários.
Cortesia de Um Buraco na Sombra
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