Uma antologia de poesia «em torno da cidadania» foi lançada esta semana em Lisboa, na sede do Instituto Camões, numa sessão que contou com dois dos autores, Alexandre Dias Pinto e Pedro Valente, e o prefaciador, o professor universitário Manuel Gusmão, também antologiado.
Intitulada O Nosso Dever Falar, a obra, que inclui poemas de autores da lusofonia, é o resultado de um projecto com a colaboração do Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido publicada em 2007 pela editora Santillana-Constância, com o apoio do Programa Lusitânia, gerido pelo Instituto Camões, FCT e Gabinete de Relações Internacionais da Ciência e do Ensino Superior.
Dois objectivos presidiram à elaboração da obra da autoria de Alexandre Dias Pinto, Carlota Miranda, Orlanda de Azevedo e Pedro Valente: o primeiro deles foi a organização de uma «antologia de poemas de língua portuguesa que abordam questões relativas à cidadania», «uma temática produtiva na literatura lusófona, sobretudo no século XX», segundo uma nota dos autores.
Esta poesia problematiza «assuntos como as formas de poder, a pobreza, a in(justiça) social, a consciência cívica, mas também o respeito pelo outro, o consumismo, o poder dos media ou a condição da mulher».
A obra foi também «concebida para ser usada tanto nas disciplinas de Língua Portuguesa, Português e Literatura Portuguesa como em Formação Cívica», quer a nível do ensino básico (3º ciclo), quer no secundário e no superior, pelo que 30 poemas são acompanhados por fichas que permitem «percursos de exploração literária e de reflexão sobre os problemas nela equacionados».
De acordo com os autores, a antologia começou a ser desenvolvida no ano lectivo de 2002/03 como um dos «produtos de um projecto didáctico em três escolas do ensino básico e secundário que «entrelaçava» o ensino das línguas com a literatura, as artes plásticas e a música.
O projecto recebeu o Selo Europeu para as Inicitivas Inovadoras na Área do Ensino-Aprendizagem das Línguas, uma distinção da Comissão Europeia.
A versão inicial da antologia não era exclusivamente lusófona e incluía textos poéticos em inglês e alemão.
No seu prefácio, Manuel Gusmão interroga-se sobre a «plausibilidade do uso da poesia na formação dos jovens para a cidadania». «Por um lado, supõe-se que há, pelo menos, alguns poemas que podem ser lidos como tematizações da cidadania; por outro lado, supõe-se que a leitura de poemas pode produzir consequências no plano dessa formação».
Alertando para que «a dificuldade maior reside no risco de a Educação para a Cidadania se transformar numa actividade de endoutrinação», Gusmão, depois de traçar um quadro dos sinais actuais de regressão política e social no mundo, acaba por concluir que essa Educação para a Cidadania é «necessária».
«Ao longo do último século, ela [a poesia] travou todos os combates, serviu e resistiu a todos os poderes, acorreu a todas as crenças e delas regressou, e contudo resistiu e resiste», escreve.
Os autores portugueses antologiados são Manuel Alegre, Almeida Garrett, Sophia de Mello Breyner Andresen, António Botto, José Gomes Ferreira, António Gedeão, Pedro Mexia, Alexandre O'Neill, Fernando Pessoa, José Régio, António Ramos Rosa, José Saramago, Jorge de Sena, Alberto de Serpa, José Mário Silva, Miguel Torga, Mário Cesariny, José Afonso, Jorge d'Aguiar, António Franco Alexandre, Eugénio de Andrade, Ruy Belo, Bocage, Alberto Caeiro, Camões, E.M. de Melo e Castro, Ruy Cinatti (também considerado poeta timorense), Natália Correia, Manuel Gusmão, Herberto Hélder, Maria Teresa Horta, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel Magalhães, Maria Alberta Menéres, Adolfo Casais Monteiro, David Mourão-Ferreira, Vitorino Nemésio, Carlos de Oliveira, Antero de Quental, Luís Quintais, Ary dos Santos, Pedro Tamen e Cesário Verde.
Do Brasil estão incluídos Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecilia Meireles, Vinicius de Moraes, Haroldo de Campos, Terezinha Éroli, João Cabral de Melo Neto e de Angola João Melo, Bessa Victor, Costa Andrade, M. António e Conceição Ramos-Lopes.
Significativas são também as presenças de poetas de Cabo Verde (Jorge Barbosa, Onésimo Silveira, Vera Duarte, Tacalhe e Arménio Vieira), Guiné-Bissau (Pascoal d' Artagnan e Agnelo Regalla) São Tomé e Príncipe (Maria Olinda Beja, Maria Manuela Margarido, Francisco José Tenreiro e Marcelo da Veiga), Moçambique (Mia Couto, José Craveirinha e Rui Knopfli) e Timor-Leste (Fernando Sylvan, Jorge Barros Duarte e Xanana Gusmão).
3 comentários:
Oque é que o Pedro Mexia faz aí? É poeta?
Estamos mal, muito mal!!!
Loucos!
Obrigado pela referência à nossa antologia.
Achei o blogue muito interessante e a causa muito nobre. Voltarei cá regularmente.
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