«Não há volta a dar. Junho foi dominado pelas eleições europeias. O foguetório do costume, candidatos decalcados a papel químico do Camilo, de Júlio Dinis e Alves Redol e afins. (A Laurinda-que-fala-com-Deus-em-inglês, presumivelmente com Evelyn Waugh.) Mas ninguém soube o que pensam os escritores portugueses. Tirando Eduardo Lourenço, teórico de serviço à Res publica, dita “coisa do povo”, não me lembro de nenhum jornal ou televisão ter promovido um debate sério com intelectuais. Porque os comentadores regulares de televisão ou jornal, mesmo os que são criadores e intelectuais (meia dúzia, pelas minhas contas), e isto não é juízo de valor, é facto, falam pelos partidos que representam ou pelas “sensibilidades” partidárias que publicamente apoiam.
Ora, eu tenho saudade do tempo em que escritores que o povo identificava como tais — Fernando Pessoa, Aquilino Ribeiro, José Gomes Ferreira, José Régio, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Óscar Lopes, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Urbano Tavares Rodrigues, David Mourão-Ferreira, Natália Correia, José Cardoso Pires, Eduardo Prado Coelho, etc. —, coisa diferente de escritores que recebem prémios, mas, embora “laureados”, nós outros, seus pares, perguntamos, perplexos, “quem?”; tenho saudade do tempo, dizia, em que os escritores escreviam nos jornais textos de apoio ou agravo sobre assuntos de interesse colectivo.
Ainda me lembro, em Moçambique, nos anos 1960-70, de polémicas acesas por causa de Godard, Antonioni ou Mike Nichols, a pretexto da adaptação que este último fez de Quem tem medo de Virginia Woolf? (1966), de Edward Albee. As questões políticas, essas, faziam-se de viés (censura oblige). Mas em democracia a aparente apatia da intelligentzia não se percebe.
E discutir a Europa não é coisa de somenos! Queremos este modelo? O alargamento de 15 para 27 beneficiou? Sim ou não? E quem? Vamos acertar o passo (melhor dito: as cabeças) pela Europa desenvolvida e cosmopolita, ou queremos continuar neste marasmo melancólico de 1.ª República pós-moderna? »
Eduardo Pitta
Cortesia de PNETLiteratura
Ora, eu tenho saudade do tempo em que escritores que o povo identificava como tais — Fernando Pessoa, Aquilino Ribeiro, José Gomes Ferreira, José Régio, Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, Óscar Lopes, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Urbano Tavares Rodrigues, David Mourão-Ferreira, Natália Correia, José Cardoso Pires, Eduardo Prado Coelho, etc. —, coisa diferente de escritores que recebem prémios, mas, embora “laureados”, nós outros, seus pares, perguntamos, perplexos, “quem?”; tenho saudade do tempo, dizia, em que os escritores escreviam nos jornais textos de apoio ou agravo sobre assuntos de interesse colectivo.
Ainda me lembro, em Moçambique, nos anos 1960-70, de polémicas acesas por causa de Godard, Antonioni ou Mike Nichols, a pretexto da adaptação que este último fez de Quem tem medo de Virginia Woolf? (1966), de Edward Albee. As questões políticas, essas, faziam-se de viés (censura oblige). Mas em democracia a aparente apatia da intelligentzia não se percebe.
E discutir a Europa não é coisa de somenos! Queremos este modelo? O alargamento de 15 para 27 beneficiou? Sim ou não? E quem? Vamos acertar o passo (melhor dito: as cabeças) pela Europa desenvolvida e cosmopolita, ou queremos continuar neste marasmo melancólico de 1.ª República pós-moderna? »
Eduardo Pitta
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