POEMAS
O lugar em que temos razão
Do lugar em que temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.
Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um sussurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.
tradução: Nancy Rozenchan
Eu, que eu possa descansar em paz
Eu, que eu possa descansar em paz
eu, que ainda estou vivo e digo:
que eu possa ter paz no que tenho de vida.
eu quero paz agora mesmo, enquanto ainda estou vivo.
não quero esperar como aquele piedoso que almejava
uma perna do trono de ouro do Paraíso. Quero uma cadeira
de quatro pernas, aqui mesmo, uma cadeira simples de madeira.
Quero o resto de minha paz agora.
Vivi minha vida em guerras de toda espécie: batalhas dentro e fora,
combate cara a cara, a cara sempre a minha mesmo,
minha cara de amante, minha cara de inimigo
Guerras com velhas armas, paus e pedras, machado enferrujado, palavras,
rasgão de faca cega, amor e ódio,
e guerra com armas de último forno, metralha, míssil,
palavras, minas terrestres explodindo, amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia de meus pais de que vida é guerra
Eu quero paz com todo meu corpo e em toda minha alma.
Descansem-me em paz...
tradução: Millor Fernandes
Na história do nosso amor
Na história do nosso amor
Um foi sempre uma tribo nómada,
Outro uma nação no seu próprio solo.
Quando trocamos de lugar,
tudo tinha acabado,
O tempo passará, como paisagens
passaram por trás dos actores
parados em suas marcas
quando se roda um filme
as palavras passarão
por nossos lábios,
Até as lágrimas passarão
por nossos olhos.
O tempo passará por
cada um em seu lugar.
E na geografia do resto
de nossas vidas,
Quem será uma ilha,
quem uma península.
Ficará claro para cada um de nós
No resto de nossas vidas
Em noites de amor com outros...
Estatísticas
Por cada homem enfurecido há sempre
dois ou três que o acalmam com palmadinhas nas costas,
por cada chorão, muitos mais limpadores de lágrimas,
por cada homem feliz, uma profusão de infelizes
a querer aquecer-se no calor da sua alegria.
E todas as noites pelo menos um homem
não consegue encontrar o caminho de casa
ou a sua casa mudou-se para outro lugar
e ele vagueia pelas ruas,
supérfluo.
Uma vez estava com o meu filho pequeno na estação
e um autocarro vazio passou por nós. O meu filho disse:
“Olha, um autocarro cheio de gente vazia.”
Violino de Palmo e Meio
Sento-me no jardim onde brinquei em criança.
A criança brinca ainda na areia. As suas mãos fazem ainda
pat-pat, depois cavam a destroem,
depois outra vez pat-pat.
Entre as árvores a pequena casa está ainda de pé
onde a alta voltagem zumbe e ameaça.
Na porta de ferro a caveira é
outra conhecida de infância.
Quando tinha nove anos deram-me
um violino de palmo e meio
e palmo e meio de emoções.
Às vezes sou ainda assaltado por orgulho
e alegria: Já me sei vestir e despir
sozinho.
O lugar em que temos razão
Do lugar em que temos razão
jamais crescerão
flores na primavera.
O lugar em que temos razão
está pisoteado e duro
como um pátio.
Mas dúvidas e amores
escavam o mundo
como uma toupeira, como a lavradura.
E um sussurro será ouvido no lugar
onde houve uma casa
que foi destruída.
tradução: Nancy Rozenchan
Eu, que eu possa descansar em paz
Eu, que eu possa descansar em paz
eu, que ainda estou vivo e digo:
que eu possa ter paz no que tenho de vida.
eu quero paz agora mesmo, enquanto ainda estou vivo.
não quero esperar como aquele piedoso que almejava
uma perna do trono de ouro do Paraíso. Quero uma cadeira
de quatro pernas, aqui mesmo, uma cadeira simples de madeira.
Quero o resto de minha paz agora.
Vivi minha vida em guerras de toda espécie: batalhas dentro e fora,
combate cara a cara, a cara sempre a minha mesmo,
minha cara de amante, minha cara de inimigo
Guerras com velhas armas, paus e pedras, machado enferrujado, palavras,
rasgão de faca cega, amor e ódio,
e guerra com armas de último forno, metralha, míssil,
palavras, minas terrestres explodindo, amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia de meus pais de que vida é guerra
Eu quero paz com todo meu corpo e em toda minha alma.
Descansem-me em paz...
tradução: Millor Fernandes
Na história do nosso amor
Na história do nosso amor
Um foi sempre uma tribo nómada,
Outro uma nação no seu próprio solo.
Quando trocamos de lugar,
tudo tinha acabado,
O tempo passará, como paisagens
passaram por trás dos actores
parados em suas marcas
quando se roda um filme
as palavras passarão
por nossos lábios,
Até as lágrimas passarão
por nossos olhos.
O tempo passará por
cada um em seu lugar.
E na geografia do resto
de nossas vidas,
Quem será uma ilha,
quem uma península.
Ficará claro para cada um de nós
No resto de nossas vidas
Em noites de amor com outros...
Estatísticas
Por cada homem enfurecido há sempre
dois ou três que o acalmam com palmadinhas nas costas,
por cada chorão, muitos mais limpadores de lágrimas,
por cada homem feliz, uma profusão de infelizes
a querer aquecer-se no calor da sua alegria.
E todas as noites pelo menos um homem
não consegue encontrar o caminho de casa
ou a sua casa mudou-se para outro lugar
e ele vagueia pelas ruas,
supérfluo.
Uma vez estava com o meu filho pequeno na estação
e um autocarro vazio passou por nós. O meu filho disse:
“Olha, um autocarro cheio de gente vazia.”
Violino de Palmo e Meio
Sento-me no jardim onde brinquei em criança.
A criança brinca ainda na areia. As suas mãos fazem ainda
pat-pat, depois cavam a destroem,
depois outra vez pat-pat.
Entre as árvores a pequena casa está ainda de pé
onde a alta voltagem zumbe e ameaça.
Na porta de ferro a caveira é
outra conhecida de infância.
Quando tinha nove anos deram-me
um violino de palmo e meio
e palmo e meio de emoções.
Às vezes sou ainda assaltado por orgulho
e alegria: Já me sei vestir e despir
sozinho.
PEQUENA BIOGRAFIA
Yehuda Amichai nasceu em Wurzburg, na Alemanha, em 1924. Em 1936, emigrou com a sua família para a Palestina e mais tarde, naturalizou-se como cidadão israelita. Participou na II Guerra Mundial, como soldado das brigadas semitas do exército britânico e lutou na guerra israelo-árabe de 1948. Depois da guerra estudou literatura hebraica e textos bíblicos. Foi professor do ensino secundário. Amichai publicou o seu primeiro livro de poesia, Achshav Uve-Yamim HaAharim (“Now and in Other Days”), em 1955. Escreveu onze volumes de poesia em hebraico, duas novelas e um livro de contos. A forma inovadora como utiliza a língua hebraica, influenciou a linguagem moderna em Israel. A sua obra foi traduzida para mais de trinta línguas. Morreu em Jerusalém no dia 27 de Setembro de 2000.
Cortesia de Um Buraco na Sombra
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