"Que Portugal se espera em Portugal?", perguntava, dramaticamente, Jorge de Sena, num dos seus mais belos poemas.
Tenho revisitado, com frequência, o grande poeta, da estirpe e da grandeza de Pessoa, não o esqueçamos, a fim de procurar respostas para algumas das minhas mais dilemáticas interrogações. Não é só na poesia que, nele, encontramos a súmula do que é ser português. Na prosa, nos ensaios definitivos sobre Camões, e nesse romance definitivo "Sinais de Fogo" lá estão as marcas do nosso comum desespero e da nossa quase colectiva indolência.
Cito Sena e poderia nomear outros. Sophia, por exemplo; ou Carlos de Oliveira; ou Ruy Belo e O'Neill, para os quais Portugal era uma angústia de causa. Ninguém sabia, de entre eles, a forma e o modo de dar volta a estas características letais. O Eça gozou à ufa com este espírito que nos tatua e persegue. Garrett, anteriormente, dissera que o "País é pequeno, e não maior a gente que o habita." Ouvimos, vemos e lemos, nas rádios, nas televisões e nos jornais uns senhores graves e notoriamente impreparados, a falazar sobre tudo e mais alguma coisa, os quais, numa sociedade intelectualmente preparada, iriam para o brejo conversar com hortaliças.
Sempre os mesmos. Com os mesmos tiques de linguagem, os mesmos arrebiques, as mesmas gesticulações. Dos "comentadores" de futebol aos preopinantes da política, a informação e a cultura portuguesas actuais ali se circunscrevem. Prosas canhestras, má assimilação da realidade política nacional e internacional. Convém sempre repetir que estes senhores não prestam para nada.
Porém, destes não somos responsáveis. Somo-lo dos políticos, melhor: dos partidos (também sempre os mesmos) que elegemos para nos governar. Nos últimos trinta anos assistimos ao esganar das nossas mais asseadas esperanças. Tanto o PS quanto o PSD não merecem as nossas qualificações: um é pior do que o outro. Chegámos à situação extrema em que nos encontramos, mas não me venham dizer que somos todos culpados. Acreditámos (continuamos a acreditar) e patranhas e nunca nos ressarcimos das aldrabices que nos envolvem. Uns fugiram e estão muito bem da vidinha. Olhem o Guterres, o Durão, o Vital, o inquietante Correia de Campos, aquele pobre homem Rangel, o Paulo, todos com empregos subordinados aos serviços que prestaram. O Correia, esse, então, acabou com o subsistema de saúde dos jornalistas (o único subsistema a que pôs fim), criado em 1947, e aplicou um golpe quase mortal à Casa da Imprensa, que sobrevive graças à honrada teimosia de alguns jornalistas. Nenhum profissional de Imprensa queria regalias ou privilégios: apenas desejávamos acudir aos velhos jornalistas e às suas famílias, especialmente às viúvas, consignando-lhes a ajuda que a sua dignidade merecia. O Correia, que se refastela nem Bruxelas, não tocou em outros subsistemas, entre os quais os dos fardados. Está tudo dito. Ou não?
Não me sinto responsável por esta gente. Uma gente que não gosta da gente. O meu voto decide-se depois de indecisões dilemáticas. Mas ele incide na possibilidade de as coisas melhorarem. Não melhoram. Não têm melhorado. Com recta consciência, neste momento histórico, para quem nos inclinarmos? No caso do dr. Cavaco, fujo espavorido. Não apenas por ser hirto, inculto, despropositado. Ele foi um dos piores e mais maléficos primeiros-ministros desta II República, e uma monstruosa manipulação tem ocultado os prejuízos deste senhor à pátria. Quanto a Sócrates, já se deixa ver: assim que for corrido arranjam-lhe logo um bom lugar nesses sítios que eles lá sabem. Passos Coelho, com quem pessoalmente simpatizo, é um estropício. Raras vezes assisti a um político que disparasse tantos tiros no pé. No pé, nos pés, nas mãos e em todo o lado. Tem pouco jeito para os jogos malabares e ainda menos para obter uma visão do que acontece, em Portugal e no Mundo.
Estamos condenados a sobrenadar neste lago de infantilidades, de mediocridade e de mentiras? Não o creio. Sou demasiado antigo e conheço razoavelmente a História para saber que nada é definitivo. Além do que a pátria já passou por sobressaltos maiores. Tudo indica que Sócrates está no fim e que Passos é o que há. Todavia, possuímos força suficiente para mudar o rosto e o corpo moral e cultural do nosso país. Afim de que Portugal não continue a esperar para se Portugal.
Por Baptista Bastos
Cortesia de Jornal de Negócios
Tenho revisitado, com frequência, o grande poeta, da estirpe e da grandeza de Pessoa, não o esqueçamos, a fim de procurar respostas para algumas das minhas mais dilemáticas interrogações. Não é só na poesia que, nele, encontramos a súmula do que é ser português. Na prosa, nos ensaios definitivos sobre Camões, e nesse romance definitivo "Sinais de Fogo" lá estão as marcas do nosso comum desespero e da nossa quase colectiva indolência.
Cito Sena e poderia nomear outros. Sophia, por exemplo; ou Carlos de Oliveira; ou Ruy Belo e O'Neill, para os quais Portugal era uma angústia de causa. Ninguém sabia, de entre eles, a forma e o modo de dar volta a estas características letais. O Eça gozou à ufa com este espírito que nos tatua e persegue. Garrett, anteriormente, dissera que o "País é pequeno, e não maior a gente que o habita." Ouvimos, vemos e lemos, nas rádios, nas televisões e nos jornais uns senhores graves e notoriamente impreparados, a falazar sobre tudo e mais alguma coisa, os quais, numa sociedade intelectualmente preparada, iriam para o brejo conversar com hortaliças.
Sempre os mesmos. Com os mesmos tiques de linguagem, os mesmos arrebiques, as mesmas gesticulações. Dos "comentadores" de futebol aos preopinantes da política, a informação e a cultura portuguesas actuais ali se circunscrevem. Prosas canhestras, má assimilação da realidade política nacional e internacional. Convém sempre repetir que estes senhores não prestam para nada.
Porém, destes não somos responsáveis. Somo-lo dos políticos, melhor: dos partidos (também sempre os mesmos) que elegemos para nos governar. Nos últimos trinta anos assistimos ao esganar das nossas mais asseadas esperanças. Tanto o PS quanto o PSD não merecem as nossas qualificações: um é pior do que o outro. Chegámos à situação extrema em que nos encontramos, mas não me venham dizer que somos todos culpados. Acreditámos (continuamos a acreditar) e patranhas e nunca nos ressarcimos das aldrabices que nos envolvem. Uns fugiram e estão muito bem da vidinha. Olhem o Guterres, o Durão, o Vital, o inquietante Correia de Campos, aquele pobre homem Rangel, o Paulo, todos com empregos subordinados aos serviços que prestaram. O Correia, esse, então, acabou com o subsistema de saúde dos jornalistas (o único subsistema a que pôs fim), criado em 1947, e aplicou um golpe quase mortal à Casa da Imprensa, que sobrevive graças à honrada teimosia de alguns jornalistas. Nenhum profissional de Imprensa queria regalias ou privilégios: apenas desejávamos acudir aos velhos jornalistas e às suas famílias, especialmente às viúvas, consignando-lhes a ajuda que a sua dignidade merecia. O Correia, que se refastela nem Bruxelas, não tocou em outros subsistemas, entre os quais os dos fardados. Está tudo dito. Ou não?
Não me sinto responsável por esta gente. Uma gente que não gosta da gente. O meu voto decide-se depois de indecisões dilemáticas. Mas ele incide na possibilidade de as coisas melhorarem. Não melhoram. Não têm melhorado. Com recta consciência, neste momento histórico, para quem nos inclinarmos? No caso do dr. Cavaco, fujo espavorido. Não apenas por ser hirto, inculto, despropositado. Ele foi um dos piores e mais maléficos primeiros-ministros desta II República, e uma monstruosa manipulação tem ocultado os prejuízos deste senhor à pátria. Quanto a Sócrates, já se deixa ver: assim que for corrido arranjam-lhe logo um bom lugar nesses sítios que eles lá sabem. Passos Coelho, com quem pessoalmente simpatizo, é um estropício. Raras vezes assisti a um político que disparasse tantos tiros no pé. No pé, nos pés, nas mãos e em todo o lado. Tem pouco jeito para os jogos malabares e ainda menos para obter uma visão do que acontece, em Portugal e no Mundo.
Estamos condenados a sobrenadar neste lago de infantilidades, de mediocridade e de mentiras? Não o creio. Sou demasiado antigo e conheço razoavelmente a História para saber que nada é definitivo. Além do que a pátria já passou por sobressaltos maiores. Tudo indica que Sócrates está no fim e que Passos é o que há. Todavia, possuímos força suficiente para mudar o rosto e o corpo moral e cultural do nosso país. Afim de que Portugal não continue a esperar para se Portugal.
Por Baptista Bastos
Cortesia de Jornal de Negócios
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