Necrologia do Verbo Amar
Amo -
lançando-se contra moinhos de vento gritava dom Quixote.
Amo –
envenenado de céus gritava Otelo.
Amo –
recostado em Ossian soluçava Werther.
Amo –
tremendo nas carruagens de Jasvin repetia Vronski.
Amo –
separando-se de Grusenka sonhava Dimitri Karamazov.
Amo –
brandindo a espada recitava Cyrano.
Amo –
regressando do comício sussurrava Jacques Thibault.
Amo –
gritaria também o herói de um romance contemporâneo,
mas o autor não lho permite.
Não está na moda.
O amor já não é contemporâneo.
Todas voltam de algum lugar
Todas voltam de algum lugar
Zelja de Regensburgo.
Sanja de Trieste.
Asja de Maiorca.
Daniela de Tuniz.
Nieves de Roma.
Mirka de Budapeste.
Sandra Lucic de Tucepi.
Nusa Kajetan do mercado.
Zaga do hospital.
Lucy das aulas.
Todas voltam de algum lugar.
Apenas tu não voltas.
Mains
Pendant cinq années entières,
elle a tenu la crosse du fusil :
main du soldat.
Elle a été obligée
de frapper le chien aimé :
main du chasseur.
Toute la vie,
elle a donné des coups :
mains du boxeur.
Toute la vie,
elle a porté le verre aux lèvres :
main de l'ivrogne.
Mais voici pourtant une main heureuse,
celle qui depuis vingt ans te caresse.
Mais voici pourtant une main heureuse !
Em Sarajevo
Na primavera de 1992
Tudo é possível:
Uma pessoa põe-se na bicha do pão
e vai parar ao serviço de urgência
com uma perna amputada.
E no fim ainda diz
que teve muita sorte.
PEQUENA BIOGRAFIA
Izet Sarajlic nasceu em Deboj (Bósnia-Herzégovinia) a 16 de Março de 1930. Cresceu em Treblinja e em Dubrovnik. Licenciou-se em Letras na Faculdade de Sarajevo. Trabalhou durante quase toda a sua vida na editora “ Veselin Maslesa”. Teve uma posição crítica quanto à intervenção internacional no conflicto armado na Bósnia, sendo conhecida a sua frase: Eu gostava de escrever 'liberdade' nos muros, mas vieram vocês os internacionalistas e destruiram os muros. A sua obra marcou a poesia europeia e em especial a dos Balcãs. Publicou 15 livros de poesia e numerosas memórias, textos políticos e traduções. Os seu poemas foram traduzidos para macedónio, eslovaco, russo (nomeadamente por Joseph Brodski, na altura um jovem poeta de Leninegrado), turco, inglês, albanês, lituano, castelhano, alemão, polaco e francês. Izet Sarajlic morreu em Sarajevo, no dia 2 de Maio de 2002, pouco depois de ser premiado com a maior distinção literária da Bósnia-Herzégovinia.
Cortesia de Um Buraco na Sombra
Sem comentários:
Enviar um comentário